sexta-feira, 24 de setembro de 2010

o amor me deixa calma
me deixa calma
me deixa calma

que só tu vindo aqui vê minha cara

domingo, 12 de setembro de 2010

sobre listas

Três:


Coisas que me dão tesão:

- arrancar a unha do dedão do pé com a mão depois do banho
- cortar pimentão com uma boa faca
- 3° sinal do teatro


Coisas que adoro:

- vendedoras embrulhando para presente
- apertar meus roxos
- imagens de insetos fazendo sexo


Coisas que não gosto de ver:

- bicho morto em estrada
- Error Fatal na tela do computador
- sangue na calcinha


Coisas que me dão medo:

- arte sacra
- tic nervoso nos olhos
- recém nascidos


Coisas que me dão aflição:

- passar o pente na minha pinta alta
- nylon
- passar a unha nas cordas do violão
(escrevi todo esse tópico com arrepios no couro cabeludo)


Coisas que me dão sono:

- gente séria
- Marcel Proust
- carinho na sobrancelha


Coisas que me perturbam:

- mendigos
- a falta de vista do metrô
- varizes altas


Coisas que me fazem rir:

- crianças gays
- achar bilhetes antigos
- cachaça


Coisas que me desconcertam:

- axilas, em geral
- dentes amarelos
- meu pé em determinada posição


Coisas que desejo:

- tocar piano ninjamente
- todos os livros do Quino além Mafalda
- ele todo dia


Coisas que detesto:

- tomar choque
- tomar susto
- tomar mate


Coisas que acredito:

- crianças até 3 anos
- mulheres com mais de 70 anos
- eu, pela manhã

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

cremosa

Noites com creme são dias sem sexo. Tem tempo já, acordei com bruto tubo de raio solar bem na minha testa. Explico: não tenho cortinas, tenho um black-out que colei com velcro. O velcro brochou, o sol entrou, a testa esquentou. E aí não consigo fazer a manha habitual. Assim, putinha, levantei da cama e escancarei o black-out todo. De pernas de chinês, hahaha, sempre rio quando falo isso: PERNAS DE CHINÊS. quáquáquá. Sentei no quarto abusivamente claro para acabar de ler o livro sobre a vida do Darwin. Estou nessa fase biografia, coitada. Minhas pernas, nunca chinesas, expostas ao sol do norte. Há de ser outro sol que glorifica os ricos. Losangos nas pernas, milhares, minha canela toda como se fosse colméia. O horror, o horror. Cuspi na mão e logo esfreguei, conseguindo disfarçar por minutos. Logo, teria minha canela russa de volta. Ando bem asiática, pelo visto. Coisa de vó isso “Que perna russa”. Nunca entendi, sempre aceitei. Antes que morram, preciso entrevistá-las, preciso de mais informações, o tempo exato do bacalhau, saber se ela fez aborto porque achava que meu segundo avô não era bom pai da primeira filha dele, relembrar a história da cabaça-cabaça-você-viu-uma-menina-passar-por-aí, que ela contava antes de dormir. Preciso de cremes e preciso estipular o dia do uso, já que o homem que elegi curte lamber pele. Nada pior do que alguém querer disfarçar o peido usando Bom Ar, fico pra morrer com a falsidade da felicidade sendo borrifada, constrangimento forte. Nada pior do que uma mulher levantar o braço no metrô e eu conseguir identificar litros de perfume ou desodorante . Não sei mais como as pessoas cheiram. Pernas secas. Tanto pela falta de gordura itself quanto pela falta de gordura produzida, que hidrata. Há de hidratar. Vai voltar a chover? Noites com creme são dias sem sexo.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

1 de setembro de 1981


tinha uma risada esganiçada, que me irritava um pouco. mas era mais velha que eu, e já tinha colocado cigarro e outras coisas na boca, o que me causava fascínio. éramos primas e fazíamos tudo juntas. me provocava de uma maneira não explicativa, apenas sensorial. me concentro, fechando os olhos para que o mundo não me perturbe, e tento lembrar mais, sempre lembrar mais. vida interrompida de maneira bruta e imbecil. o que foi mesmo que ela disse naquele dia antes d’eu ter dado um tapa na cara dela? me viu fazendo teatro. teatrinho. do colégio. afirmou como prima mais velha, que aquilo seria minha vida. repetiu de ano. gargalhávamos com os mesmos dentes. meu dentista era o dela. a guerra no golfo, janeiro de 91. marina vai para as ruas de paralelepípedos de são pedro d’aldeia e começa a pular com fúria e bradar: guerra! guerra! quebrou o pé. me encantava a paixão pela independência, pela busca das experiências, pelo ineditismo, pela coragem. a última vez que nos vimos, estávamos num quarto de outra prima, eu, ela e um menino de um ano. brincávamos com ele, fazíamos cosquinha. observávamos o princípio da vida. perguntei seus planos para o aniversário, 4 dias depois. me contou das suas idéias. era branca, tão branca que tinha varizes faciais. morreu completando outra idade. envelheci 20 anos. após o ritual de enterro, fui ao cinema, dopada, não podia ficar em casa, não podia ficar parada, não podia existir depois. cogitei correr nua pelas ruas, mas eu ainda não tinha 18 e isso me soava difícil de explicar se me pegassem. percebi a sutileza e o silêncio da morte. fui atrás da paixão pela independência, da busca das experiências, do ineditismo, da coragem. tem um tempo. achei um caderno de perguntas, você sabe, aquele caderno com perguntas, todos respondiam. uma besteirinha. ela respondeu. com fome, lia todas as suas respostas, pois ali se fazia presente viva. era um telefonema. a pergunta de número 32 era: “você tem medo, de quê?” eu e minhas curiosidades acerca do ser humano. desde sempre.
ela respondeu: de morrer cedo.

Flores que parecem nariz, do alto desse coreto, eu espero na escadinha, enquanto você caminha até mim. Talvez chova essa tarde. Cai a lua. Girassol.