quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

3.8

Outro dia eu parecia homem, demorei mais de um minuto pra tirar meu sutiã. Devo explicar que havia bebido três doses de uísque, gentilmente cedidas pelo belo rapaz novinho que me olhava enquanto eu cantava “Doce vampiro” da Rita Lee num karaokê gay de Copacabana. Festas de fim de ano. Elas estão começando, era para eu me assustar, mas estou toda serelepe. Quando se tem 30 e lá vai caralhada, qualquer cantada de um rapaz de 20 e caralhinhos, nos chega não como uma massagem no ego, mas sim como uma fricção clitoriana. Nunca fui dessas belas que param salas, restaurantes e pistas de dança. Mas viajei muito, estudei línguas, li muito, então, pode-se dizer que tenho lá meus encantos. Mas o calendário tem vontade própria e aí não casei, não juntei, não reproduzi. Minha família me alerta a cada festa, e eu sorrio laranja, porque amarelo já foi gasto. “Venha sugar o calor de dentro do meu sangue vermelhoooo...” Lascivamente eu cantava, pois afinal era um local gay, pois se de fato, realmente quisesse seduzir alguém, jamais cantaria tal música. Eu só tinha bebido cerveja, essa era a onda: leve, mas fogo suficiente pra subir no palco e fazer caras e bocas com meu chefe rindo, curioso: “Quem é essa?” O rapazinho, que para mim até então, era gay, me olhava mais sério do que os outros, que sacolejavam braçinhos, gritavam “uhu” de maneira aguda e rebolavam livres. Tirei 94, o que me deixou chateada, pois dentro de mim, travava uma batalha com Sandra, minha colega de trabalho, que sempre tive uma certa inveja, pois Sandra havia ficado com o único homem que me interessei na empresa. Detalhe: ela sabia que eu gostava dele. Pois assim são as mulheres. Sandra tinha cantado “Emoções” ridiculamente e tirado 98, mas entendi que a lógica dos karaokês é cantar alto, quanto mais alto você canta, mais alta sua nota. É. Desci do palco, feliz com minha própria coragem e triste com a diferença de 4 com Sandra. O rapazinho veio com um copo de uísque tilintando e me ofereceu. Agradeci e ali se deu início a uma conversa pontuada por várias gírias (dele) e gargalhadas (minhas). Márcio ou Marcinho, como ele preferia ser chamado, estava no quinto período de comunicação, e estava ali perdido, aniversário de um amigo gay de infância. Aquela coisa, ele disse. Um sorriso de quem mal acabou de tirar o aparelho, uma espinha cutucada no canto da bochecha, um cheiro gostosinho e dois uísques depois, enquanto meu chefe cantava “La Barca”, no canto escuro (existe canto claro em boate gay?), Marcinho me pressionava contra parede, enfiando sua língua na minha boca e babando muito, devo dizer. Fui aos poucos contornando a situação. O volume da calça muito me animou, podia ser novinho, mas era dono de uma pequena jamanta. Uma amiga passou e fez algum comentário do tipo “pegou pra criar”. Ri. Saímos dali e fomos para o meu apartamento. Marcinho tentou tirar meu sutiã, coitado. Para minha vergonha, também eu demorei a tirar. Ele ria com cheiro de chiclete. Colocou meu peito na boca e mordeu forte, MUITO FORTE. Urrei de dor, e quando percebi vi sangue no bico do meu peito. A vontade era de pegar um garfo e espetar o pau do meninote, mas a tia aqui é bacanosa e resolveu dar uma de professora. Assim não, Marcinho, assim. Isso, agora aperta um pouco. Isso. Pega assim, ó, com a palma da mão toda, isso. “Let’s get it on” na vitrola porque eu não sou nem boba nem nada e o menino pergunta se é Michael Jackson. Brocho. Começo a desconfiar que Marcinho é cabaçinho. Rio nervosa e ele pergunta mais ainda um “Que foi?” com voz de criança que sabe que é feia. Não consigo parar de rir agora, estou gargalhando na minha cama, com falta de ar. Theeeeeere’s nothing wrong with meeee, loving you. Michael Jackson! Onde já se viu? Só aqui. Na minha cama. Comigo. Tusso, engasgo e ponho a culpa no uísque. Ele ri e relaxa um pouco. Relaxa até demais. O membro volta a seu estado normal. No fundo-no fundo (alguém consegue falar “no fundo” só uma vez?) não estava preparada pra isso. Beirando os 37 anos, sozinha na calada noite preta, noite preeeeeta, ia deflorar um rapazinho. Os dois brochados na cama, eu com a cabeça a girar, analisando a situação bizonhíssima a qual me coloquei. E Marcinho, bebê guti guti, pele quase sem pentelhos, a me olhar. A paranóia logo chega e começo a me contorcer na cama para ele não reparar muito na nossa diferença de idades. Panças, rugas, flacidez. Estou me escondendo. What’s going on? A criança logo já está de volta com o troço duro. Vem logo meter, e opa, peralá, queéisso, comoassim? Cai de boca. Um triturador faria melhor. Violência, rapidez. Não, querido, não é nada disso. Olha, aqui que é bom. É. Isso. E devagar. E aí você pode, enquanto isso, colocar um dedo... DEVAGAR. Isso. Bonito. Até que crianças aprendem rápido. “Olha, você já fez isso antes?” Marcinho é rápido e cruel: “Já, mas nunca com uma da sua idade” Murcho a sobrancelha já quase feliz pela sugação aprendida. Brocho o pau que nunca tive. Visualizo Sandra com Paulo. Ouço minha mãe perguntando se eu não quero conhecer o filho da sua amiga de natação. Extraio concentração do cu para poder mostrar naturalidade com tal frase-aberração. Esqueço a pança, a ruga, o balanço da pele solta. Aplico o bola gato mais fenomenal que os humanos já tiveram conhecimento. Torturo. Sinto as veias bombeando. E paro. Uso minha velha língua, com gosto de 37 aniversários e percorro por todo aquele corpo liso, cheiro Jhonsons’ & Jhonsons. É virilha, é suvaco, é barriga, é nuca. E você, fica calado. Seu idiota. MARVIN GAYE, filho da puta. Tá achando o quê? Só porque você tem celular desde os 10 acha que sabe alguma coisa? Sabe nada. Pela primeira vez na vida coloco camisinha com a boca. O menino treme, murmura alguma coisa parecida com “eu sabia que mulheres mais velhas eram melhores, eu sabia”. Enfio a língua na orelha com piercing exótico: “ainda não viu nada”. Cavalgo, tenho câimbra na perna esquerda – faltei a academia os 3 últimos meses, você sabe. Mesmo de costas, o poder é todo meu. Marcinho quase chora. Obviamente estou longe de gozar quando sinto o corpo magrelo do infante tremer todo. Rainha de mim, vou até o banheiro, e termino o trabalho. Jorro. Volto, Marcinho quer chamego, abraço. Digo que tenho que acordar cedo, reunião, invento coisas com palavras adultas. Ele estranha. Diz que queria dormir comigo. Digo que não sou de dormir junto. Penso nos uísques oferecidos. No olhar pidão. Mas penso também em “Já, mas nunca com uma da sua idade”. Uma o quê? Espécie. Loba, uma loba. Enrolada na toalha, acompanho Marcinho até a porta. Me abraça, cheira meu pescoço com rugas e manchas da falta de protetor solar na adolescência, “quando nos vemos de novo?”. Peço pra deixar o telefone, ele anota com letras de caligrafia duvidosa. Escreve o nome e do lado, um “adorei, gatona”. Derreto trinta e sete anos. Gatona? Gatona era a Luciana Martins do meu colégio. Gatona? Sinto a calcinha molhada. Não vai dar em nada. Vamos fazer mais séquiçus, não sei se vou repetir a performance, terei que ouvir gírias cabulosas, talvez traga um vídeo game pra cá, mamãe vai querer me dar o telefone do filho de uma amiga que é psicanalista, vou me sentir obrigada a voltar pra acadddddmia. Isso não vai dar certo. Como tudo até aqui não deu. Como tudo pra sempre não dará. As coisas que mais são pra sempre são aquelas que não dão certo. A porta aberta, o corredor frio do meu prédio frio de mulher fria de 37 frios anos. Gatona, gatona. Miau. Pego ou não pego pra adestrar? Barba sem rumo certo, espinhas pra futucar, músicas pra apresentar. “Fica então... mas fica hoje.” Hojes que viram o hoje de todo dia. Post it na geladeira: só não posso me apaixonar. Encontro cara-de-pau que nunca tive e peço massagem. Quanta energia essa gente jovem, ui, tem. We're all sensitive people / With so much to give / Understand me, sugar / Since we've got to be here /Let's live. Cantarolo ao receber a massagem divina pós sexo animalesco. Marcinho diz: “I love you”. Gamo. Não vai durar nem uma semana. E tudo bem. Hedonismo, aqui vamos nós.


Aqui, conto em 4 mãos os dias que se passaram. Marcinho apaixonado por amiga óbvia da facudade, eu envelhecendo na cidade. Mais uma vez, mais de uma vez, quase. Fui feliz. Don't you know how sweet and wonderful life can be? Tenho sabido que a vida pode ser doce & maravilhosa. Minha idade é três ponto oito. Bang Bang, i hit the ground. De Marcinho, só carrego um chupão mal dado no pescoço. Gargalho sem saudades.

5 comentários:

  1. É rapaz, sem pêlo é meio brochante mesmo.
    Mas os rapazinhos tem seu charme. Não sei onde que a gente acha, mas tem.

    Adorei o conto, Let.

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  2. caraleo, letícia! sensa.

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  3. Essa triste-feliz história me provocou gargalhadas muito gostosas às 04:10 da manhã

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