quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Percepção


Eu sinto que a gente se comunica, coração.







sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Essa tarde

As grandes cidades são favoráveis à distração que chamamos de deriva. A deriva é uma técnica do andar sem rumo. Ela se mistura à influência do cenário. Todas as casas são belas. A arquitetura deve se tornar apaixonante. Nós não saberíamos considerar tipos de construção menores. O novo urbanismo é inseparável das transformações econômicas e sociais felizmente inevitáveis. É possível se pensar que as reinvindicações revolucionárias de uma época correspondem à idéia que essa época tem da felicidade. A valorização dos lazeres não é uma brincadeira. Nós insistimos em que é preciso se inventar novos jogos.

Résumé, 1954
Debord e Fillard

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Elaziña


Me olha todo dia e me conta cada coisa.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Exclamativa:

Foi em julho. A gente fez um show no Sesc Pompeia, em Sãpa. Tinham 2oo pessoas, vai. A maioria nem sabia quem a gente era, conheça São Paulo. Começamos com "Sutiã", temos começado com essa: "Quando você sorri / o sorriso da nossa dinâmica / não o sorriso dos outros / Eu sinto um susto / de sutiã se abrindo sozinho". Sutiã sempre foi sacal pra mim, espeta, aperta, dizem que levanta, mas putz, jura mesmo? Claro que têm dias que dá agonia do bicho solto, acho que homem também deve ter isso sem cueca. Agonia da falta de tato da pele com algum tecido. Mas era bem pouco. Na maioria das vezes, eu curto a moleirinha e o vento que vem. Mas i'm not getting any younger e as pessoas se constrangem com pouco, então aderi, aderi o sutiã. Só que pra minha surpresa, o bicho vez ou outra abre sozinho. Mistérios da meia noite, é quase como se o tempo, deus, o karma, o diabo, estivessem me liberando. Lucas tem 7 risadas, todas catalogadas por miã. Mas tem uma que é pra mim. É quase como se o tempo, deus, o karma, o diabo, estivessem me liberando. Em São Paulo começamos com essa. Muita gente veio falar depois. Senhoras e senhores, literalmente. Uma mulher disse: "Achei que você tinha probleminha quando começou a cantar aquela primeira música". Daí o homem (não sei se estavam juntos ou ou ou): "Mas depois eu entendi que você é tímida e não devem acreditar quando você diz que sim". Homem, eu já nem posso mais dizer que sim, pois o coro me oprime e nesse caso acho mais fácil contar piada, arrotar talvez, validando minha falta de vergonha. Tenho achado legal também cultivar alguma coisa guardada, sagrada, isso aqui é meu, dentro. Vez ou outra o sutiã deixa escapolir. Sorte de quem sabe e não me desafia a nada, porque não é assim que eu engreno. O fato da arte ter me escolhido (jamais ao contrário) não é sentença para virar do avesso, apesar da jorrada de palavras, de imagens, de mistura e de sons que eu lanço ao universo. Sobre dores e delícias. De cada um. Ou ninguém nunca vai saber o preço disso. Ninguém nunca. Passa tempo, e os círculos aumentam, minha memória é testada diariamente oi-fulana ou e-aquele-dia, mas o foco diminui e isso não é despedida, esbarrão ainda rola, mas é que agora são outros sorrisos de outras dinâmicas. E sem susto. Letímida. Eu tenho sentido mais fome.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

cerimônia

De duas, uma. Peço picolé mesmo com dedos necrosados, insisto no uso da luva, mas zombam. Zombam porque são adornados com gordura. Em mim é lacuna e comento com amigo magrélico: "não sofremos mais quando está frio?". Cabeça concordante, o nariz vira fuçinho e moça, por favor, um picolé de Talento. Agora tem. Tem até picolé de Batom. Seu filho merece. Pensei um monte de coisa pra escrever enquanto vinha até você e esqueci tudo, ou então é presença paterna que trava o troço. Preciso morar sozinha, me encavernar e passar o mesmo vestido uma três vezes. Aprender finalmente, a fazer um empadão. Socar a massa. Socar bife. Se me chama pra sair no tapa, eu apanho demais. Mas soletro maldições incríveis que tanto guardei. Crueldade estala quando periga. Estou dentro de um carro, bebendo uma garrafa de vinho, esperando dar a hora de entrar no teatro. Tomei abuso de teatro, logo eu, logo eu, não fique triste, nem pense que é um desperdício, você que me viu num palco há 4 anos atrás. Tive vergonha, mas vergonha é a esperança de uma criação, tosca e breve, mas sim, uma cria. A moça que passa, acompanha a moda. Ela lê as revistas especializadas, ela corta o cabelo-cuia-franja (saudade de ver a sobrancelha das mulheres e suas molduras inquietas), ela compra a calça que é tendência. Mas ela não cabe naquele espaço. O andar não se adapta à tal corpo estranho, e entre os meus dentes roxos, eu tento sua libertação, mas também eu sou muito, muito reservada. Achei incrível terem dito isso para mim há umas 3 semanas. Foi Bruna que disse. Poesia sabe qual papel é ruim e qual caneta puxa muito. Reservada esperando resposta de algum ponto do país, tomando porrada da tecnologia e pensando em números para a mega-sena. Os passantes, se fosse no Centro da cidade, estariam me desejando, apenas por conta do falo gelado na boca. Nunca mais pedi sorvete na Carioca, as visualizações fellatiais me irritam bastante, principalmente de quem tenho verdadeiro nojo. Mas o verdadeiro nojo só começa se os olhos viram gulosos, não sou tão cruel a não ser que tenham feridas abertas faciais. Agora muita gente escreve assim, tudo direto, onde começou essa urgência? Desenfreada. Minha digestão nunca mais foi a mesma depois da doença terrível mexicana que adquiri: verme. Mamãe tenta me sondar para parar de comer carne, mas bem sutilmente, pois não conheço outro modo de existência da minha mãe sem ser esse, de modo que às vezes me irrita tanta calma zenística. Eu disfarço ciúmes pensando em picas alheias. Infantil que só numa creche. Essa semana viverei canhota. O almoço já foi mais difícil e mouse com a esquerda também complica o cerebelo, mas acompanho meu avô numa viagem lisérgica ruim ao mundo do Alzheimer e minha mãe que só consegue me chamar de Lúcia, e me adianto logo em cuidar desse meu bem mais valioso: meu cérebro. Já disse que o cérebro é como o fundo do mar e conclui ontem que sou abissal. Abissal arisco, domesticado esquece o risco? Me deixando levar. Só acredito no coração de agora em diante. Parecia que ontem também, mas é a partir de agora, que só vale essa mão fechada no peito.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

turtle blues

tartaruga é o único animal que tem terrestre e marinho? que mistério, que tesão, que possibilidade universal. vou voltar a escrever aqui. caderninho rolando como sempre. só falta passar. digitar. cortar as unhas, pelo violão e pela sensação de afundar uma tecla. unha sente pouco.no espelho então, nem se tocam, já reparou? e isso significa a verdade.