sexta-feira, 30 de julho de 2010

Mexendo em arquivos, 2mil&7

Eu funciono com avisos. Esses carros que viram à esquerda sem ligar a seta, quem são eles? E olha que não sou do tipo que cola, sou do tipo que toma susto. Sou uma das 17 pessoas no mundo que clica em “visualizar impressão” antes de imprimir, de fato. Uma besteira sem precedentes, eu sei. Mas sou um homem cauteloso. Não imprimo nada sem visualizar. Adoro setas me alertando desde bem antes que seu trajeto irá mudar. Assim, me preparo calmamente e não sinto meu coração bloquear minha garganta. Pois assim são os sustos, bloqueiam a garganta. O grito fica guardado, aqui dentro, uma coisa meio Al Pacino no último Poderoso Chefão. A filha chatinha morre, e ele senta na escadaria do teatro e dá um grito sem som, que dura uns...hum... vamos lá... 8 segundos? Sim, oito segundos. Sabe lá o que é isso? A não preparação do que virá me causa pizzas nas blusas, suo feito um boi, e sabe-se lá se boi sua. Tenho pensado em Rita mais do que eu deveria. E Rita não dá setas. Visualizo a impressão, mas o texto não está pronto, de modo que a visualização fica uma merda. Talvez se eu fizesse astrologia ou algo do mesmo naipe, eu saberia mais sobre o futuro. Mas sou uma negação para essas sensibilidades do além. Rita não sabe mas no meu último romance, relato o mesmo bola-gato que ela me concedeu na última vez que ficamos. A mulher segura meu pau com as duas mãos e tem todo um lance de fazer um chapéu na cabeça do dito cujo. Desconcertante. Amo Rita e já sei porquê. Não que não soubesse antes ou que o ato de amar sem motivos desqualifique o amor em si, mas agora dirigindo pra casa, 4 chamadas não atendidas, já sonhando com a chegada ao lar, a barrigada pós jantar gorduroso chinês e solitário, a dose de licor nessa noite incrivelmente fria, percebo o motivo de tal verbo. Amo Rita porque nós piscamos juntos. A mulher pode não me dar alertas das ações futuras, mas a sintonia se faz na respiração, e respiração guia a pausa dos olhos, o descanso dos cílios. Comecei achando que Rita não piscava. Sabendo do impossível, daqueles que não são cegos, conclui que justamente quando eu pisco, Rita pisca também. Ao concluir, fui tomado por um fechamento da glote, tentei falar e não consegui. Rita no clássico: “engasgou?” E eu, ali, assustado na garganta, fazendo força para não piscar, querendo saber se ela é enfim, humana, não conseguindo e finalmente piscando, e concluindo que ela piscara também, e ah, sim, concluindo enfim que isso é amor. Rita outro dia fez uma tese hilária, fiquei calado e apaixonado ouvindo a mulher, com uma voz que me dá tesão. Ela fala “Eu acho o seguinte” e meu pau fica duro. Imaginando aquela mão fazendo aquele chapéu. Dizia ela que Marieta Severo deve ter sofrido muito, afinal Chico era Chico e haviam mais de mil gatinhas no salão. Ela diz umas expressões assim que eu não acredito na leveza, mesmo se tiver sacanagem. Mas aí, gargalhava alto e continuava, Marieta também traía Chico. Ô. Como traía. E só assim conseguiram viver tanto tempo casados. Não entendia bem os paralelos, mas estar com Rita é assim mesmo: é não entender, esquerdas, direitas, freadas bruscas, acelera até sumir. Mas nada disso importa, poderia ouvir a mesma história mil vezes e ainda acharia genialidade naquela que respira com a mesma velocidade que eu, e descansa o olhar do mundo no mesmo tempo que eu. Vemos as mesmas paisagens. E trocamos de canal juntos. Cinco chamadas não atendidas, já perdi o pudor e a consciência do ridículo. “Opa, você ligou pra Rita e ela não te atendeu. Deixa um recado que a Rita é bacana e sempre liga de volta.... PIIIIIIII” A Rita é uma escrota impulsiva, uma doidona faladora de merda, sem rumo pra nada nessa vida, uma cleptomaníaca de corações, uma rasa que precisa se preencher diariamente com coisas novas, não consegue manter a vida, precisa de elogios diários para poder criar as merdas que cria. Ah sim, se ela ligar agora, atenderei com voz fofa, quase um viadinho e direi melosamente: “Opa, Rita”. Mas Rita não é bacana comigo e não liga de volta. Na ausência da mão que vira chapéu da cabeça do meu pau, na ausência da ligação correspondida, na falta de placas sinalizadoras, escrevo um texto que sei que meu chefe vai proibir, mas quer saber? Visualizar impressão porra nenhuma. Vai assim mesmo, coração, sem revisão, na contramão, desajeitado e já ameaçando corte profundo, vai assim mesmo. Arquivo. Novo. Márcia? Irene? Juliana? Abrir. Salvar. Me salvar. Mas peraí, salvar como?

- Alô, Rita? Imagina, querida, eu durmo super tarde.

terça-feira, 27 de julho de 2010

sobre o poder

inventando muita coisa, inclusive canção

segunda-feira, 19 de julho de 2010

29 de setembro de 2007

Outro dia acordei atrasada, esqueci de colocar o sutiã. Mas como estava atrasada, tive que correr. Correndo, senti a gravidade.
Corta para:
Outro dia na praia vi uma menina de 3 anos agoniada com a parte de cima do biquíni. Me cocei pra não ir até ela e liberar o ainda não-seio da infanta.
Estudei dos 3 aos 10 anos num colégio de freiras. Mesmo sendo filha de médium de umbanda e iogue. Vai entender... O recreio era lúdico: às vezes trocava papéis de carta russos (meu avô havia ido pra Rússia e me trouxe papéis de carta de lá, para meu grande fascínio), às vezes jogava bafo com os meninos, obviamente minha figurinhas eram da turma da Mônica. Sim, havia o elástico. O qual, pulávamos. Eu tinha uma existência fácil, mas já reparadora. Eu comecei falando de peitos. E vou voltar a eles. Calma. É que sou explicativa, sou filha da minha mãe, não confunda com fazer rodeios. É que sou dos detalhes, sou do arco íris, não do pote de ouro. Eu gostava do Rodrigo Barbosa, e isso é outra GRANDE história da minha vida que depois faço um texto longa metragem, não pelo prazer dos leitores comentarem, mas só pra enquanto eu escrever tentar compreender os porquês. Não que eu precise. Mas eles caem bem. Porque, porquê, por que, por quê. Caem bem. Viu?
Eu era um retão dos boxes. Algumas meninas já usavam top embaixo da blusa do colégio de freiras. Só quero que você se top top top. Teve uma tarde que algum professor não foi. Ou era educação física, eu não sei, pena. Mas também pouco importa. O que aconteceu foi que os meninos foram jogar futebol na quadra. Rodrigo Barbosa me chamou. A minha altura me valia alguma coisa que eu mesma ainda não sabia. Achavam que eu era boa. E nem era basquete. Fazia calor, pois assim começam as boas histórias: “fazia calor...” Frio dói, você sabe. Haviam dois times: com camisa e sem camisa. Caí no time dos sem camisa. Mas tudo bem, meu bem, nosso bem, todos os bens. Eu era fedelha, tinha 2 irmãos mais velhos, ficava constantemente sem blusa em casa – até perceber a proeminência de duas bolas de gude vindo ao mundo. Lá fui eu, para o time dos sem camisa. Naquela época eu não pensava que o Rodrigo Barbosa ia odiar meu peito reto, liso, eu simplesmente nem cogitava a idéia dele odiar ou amar. A partida foi emocionante, o contato com meninos já me excitava em outros níveis, e eu queria jogar bem, fazer gols, defender, driblar e ser louvada por tal feito. No meio do jogo, uma inspetora apareceu e interrompeu meu coito. Gritou pela quadra: “Letícia, na sala da irmã Maria Angélica agora e vestida decentemente”. Coloquei a camisa de botão em cima do corpo vermelho e suado. Meus ossos felizes, minha cara de medo. Corri os corredores do colégio imaginando se meu time ainda estava ganhando. A sala da Irmã era tenebrosa ou assim lembro na minha mente. "Quem mandou tirar a blusa perante tantos meninos?” ela já perguntou logo de cara. Eu queria perguntar o que significava "perante", e explicar que eu não via diferença em meninos e meninas, a não ser que uns tinham uma minhoquinha no meio das pernas e outros tinham um dabliuzinho, w. A Irmã me entregou uma caneta e folhas e disse que eu deveria escrever “A mulher correta é a mulher recatada” CEM VEZES. 100. Não lembro se a frase era essa. Assim desse jeito. Mas lembro que tinha a palavra recato. E mulher. Do quarto andar do colégio, ouvindo meus amigos urrando no pátio, com as bochechas irlandesas em brasa, escrevi com minha letra de caligrafia: “A mulher correta é a mulher recatada”. Isso tem tempo já. O primeiro sutiã veio, a vergonha também. Primeira mão, primeira língua, primeiro topless. Peito carrega muita coisa. É coração, é pulmão, é muita informação. A rima pobre veio sem querer. Recatar vide o dicionário: esconder; acautelar; ter em segredo. A mulher correta, diziam as freiras, é aquela que se esconde. Meu tamanho nunca me permitiu. Os amigos riem da minha queixa de não conseguir ser gatinha mistério. Eu não tenho segredos. Oh sim, talvez um, talvez cinco. Mas pelo visto a humanidade tem vinte e dois. E todos vivem seu próprio segredo.
Outro dia fui recatada, por um momento recatada. E não me senti correta. Me senti humana. Agora digito sem blusa, faz um calor descomunal para o mês, o mundo vai acabar, meus alertas dizem dentro de mim. Olho para o meu colo e aqui estão. Peitos. Meus. Carregando o peso e a leveza e o recato e o tesão e a agressividade e a delicadeza. De todas as coisas que eu sou capaz. De todas as coisas.
Comprei um lápis. Tem cheiro de lápis, você lembra? Tenho folhas em branco. Vou escrever cem vezes “A mulher correta é livre” Nunca entendi o poder do número 100, mas vou escrever cem vezes e lançar ao vento. Instalação ao vento. Talvez você ache minha letra por aí. Agora esfriou muito. O mundo vai acabar, meus alertas dizem dentro de mim. Coloco uma blusa pra tapar meu peito. Peito tapado. Colo livre. Deita aqui.

terça-feira, 13 de julho de 2010

segunda-feira, 12 de julho de 2010

sobre chafariz & soños

a menina joga a moeda. a mãe espera. a irmã não tem mais idade. a menina pergunta se pode de novo. a mãe faz que não. a irmã já vai embora. eu bem vejo quando a menina, mesmo sem moeda, fecha os olhinhos.

terra

relativo aos terremotos

quinta-feira, 8 de julho de 2010

nós somos 1

O: - Você anda bonita.
A: - Em que sentido?
Ele: - Como?
Ela: - No sentido do meu caminhar ou de ultimamente?
Rapaz: (rindo sem mostrar os dentes) – Ultimamente.
Moça (gesticulando): - É que as palavras, você sabe...
Senhor: - Eu sei, eu sei. Outro dia eu fiquei um tempão pensando o quanto é engraçado a gente falar para alguém “Você me vê uma água?” Como é que isso, não é? Ver uma água?
Senhora: - É verdade. Mas então... obrigada.
Homem: - Por que?
Mulher (estala os dedos, todos): - Eu ando bonita.
menino: Ah sim! Por isso? Não precisa agradecer. Eu que agradeço. Quando você entrou, eu senti uma secura na garganta.
menina: - Eu senti um molhado.
Aquele: - Ah, mas geralmente é assim, não?
Aquela: - Não. Nada geralmente. (silêncio de 37 segundos) Quanto tempo você acha que passou agora?
o: - Agora, agora?
a: - É.
Diogo: - Uns dois minutos, por quê?
Amanda: - Sua noção de tempo é estranha.
Cara: - Você anda reparando nas minhas noções.
Cara (levantando): - Já vou, bateu uma sede.
Cão: - Então eu vou entrar.
Gata: - Onde?
Tubarão: - Você disse que sentiu um molhado quando eu entrei. E como agora bateu uma sede...
Baleia: - Não sei se é por aí que a banda toca.
Caralho: - E é por onde?
Buceta: - Ia te convocar pra beber água comigo.
Romeu: - Você anda bonita que só.
Julieta: - É que eu tenho ido até você.