sexta-feira, 13 de setembro de 2013

The

Nunca haviam se visto. Nem acreditavam nisso. Moravam na mesma cidade, mas nunca, nunca haviam se visto. 75 amigos em comum. Ok. Bom número, mas nunca tinham se cruzado. Você foi naquele show? Fui, mas não te vi. Você estava naquele aniversário naquela casa que deu polícia? Estava, mas não me lembro de você. Você ama esse restaurante? Mentira, eu também venho aqui quase toda semana. Lutavam contra a memória, na esperança de achar um fio condutor de coincidências do passado. Aquele mísero fio que desafia o acaso, e nos faz ficar quentes por dentro. "Sim, eu já tinha te visto". "Sim, eu lembro de você no show". "É, naquela festa eu te vi de longe e te desejei". Queriam isso. Desejavam isso. Mas não tinham. Eram inéditos na cidade que obriga passado. A cidade que exige coincidências como certificado humano de existência. Aqui no balneário você só é alguém se tiver estudado com fulano. Você só tem valor se conhecer sicrano. Nessa cidade existe uma suruba em delay, um pequeno "Barrados no Baile" cafona, curiosidade sexual pelo ex da amiga, tesão encalacrado pela mulher que o seu camarada está apaixonado. Passeiam pouco. Chocados com o não encontro, com a falta de memória, um pouco frustrados até, de repente um dia despertaram. Não tinham passado. Mas tinham presente. 

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