segunda-feira, 18 de abril de 2011

abissália

texto #2 para o ornitorrinco


inventei de pensar melodicamente. já não cabia em papel. tralálálá. arranjei um homem que também inventou de fazer isso. juntos, tivemos crias musicais fortes. mas eu não vou falar sobre isso, o inícil é sempre difício.
outro dia fomos ao ecad arrecadar mixariazinha que ganhamos por alguns shows que fizemos por essas cidades de MEL DELS. o vendaval ocorreu numa loja de camping-mergulho, coisas de pirata e outros ítens bizolos que mal pude identificar. compramos máscara de mergulho com canudo, o snorkel. experimentamos em pleno centro da cidade, rimos da cara um do outro e programamos viagem para o caribe dos menos afortunados, arraial do cabo.
eu sempre fui no fundo, mas eu sou terra, com ascendente em terra e lua em terra. pé no chão me dá alegria e raiz e caule eu deliro com cheiro. quando criança, cheguei a brincar com óculos de natação. mas era por perto. apesar do leve medo, existe GRANDE FASCÍNIO ALOPRADO por tudo que é marítimo. abissal. ter acabado de ler moby dick no dia do meu aniversário em frente ao mar do leme também coroou essa relação de paixão & frenesi.
o mais curioso é que chegamos numa praia com pessoas, famílias, baldinhos, crianças, pastel de camarão, peruanas vendendo brincos, entramos na água e em menos de um segundo, estávamos na lua. acústica do mar, falta de direção, o que é norte, o que é sul? isso aqui é debaixo d'água, isso aqui é o céu.
como boa medrosa queria ficar perto do lucas, o coral me hipnotizava, mas a possível correnteza (do meu cérebro) me deixava com o pé-de-pato atrás. a areia é outra, aliás, quanta areia nesse mundo, se a terra é quase 80% de água, é quanto de areia? vimos dois baiacus filhotes, sei porque sou assídua com programas desse estilo, um fugiu e o outro semi me encarou. os peixes são lindos e apetitosos. não entendo de alma coletiva, só sei que flutuei um bocado, até soltei a mão do homem, porque me senti aceita. os ouriços aterrorizam, mas ei, aqui embaixo eu não sinto dor de cabeça, a máscara aperta que é pra eu conseguir viver direitinho. a boca arreganhada, a respiração pontuando o passeio. os peixes são tão diferentes, são a gente. a cor, o rabo, o olho, o zigue-zague.
quando levantamos, estávamos longe, no fundo. o mapa astral treme, mas é regado. a criança na prancha, o aipim frito chegando, o casal ouvindo funk. eu não posso nem acreditar que eles ainda existiam, pra mim agora era tudo peixe. de noite, no quarto, com a mesma sensação montanha-russa, sonhei que mergulhava, outra moldura. fabuloso mistério em não ter guelras.

5 comentários:

  1. Que delícia esse medo que é, na verdade, um desejo enorme. E que lindo um sonho com guelras.

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  2. Lindo.

    A minha lua em peixes vibrou com as cores ca[ri]benhas adivinhadas e compartilhou o mesmo pasmo de não ter nascido com guelras.

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  3. ah letícia, você entende das coisas.

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  4. (Comentário absolutamente off-post porque, né, fazer sentido pra quê?)

    Estou para te falar uma coisa há tempos: leio-te e lembro-me na hora de Ana C. Eu ia escrever que não sabia porque demorei tanto tempo para te falar isso, mas, plim!, lembrei na hora: tenho uma preguiça sem fim desse culto louco (oi, pleonasmo! Feliz Páscoa!) à moça. Ok, ela era incrível? Era. Mas, gente, menos, por favor. O mesmo fazem com Clarice, de quem nem preguiça tenho. Tenho é pregui, mesmo, tamanha falta de paciência. Toda unanimidade é burra porque é rasa, simples assim.
    E, sim, apesar de toda verborragia, ler você e lembrar de Ana C. é elogio! (para mim, ao menos!)
    Feliz até com nosso reencontro internérdico, Lets!

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