quarta-feira, 31 de março de 2010
30/03/2010=3
terça-feira, 16 de março de 2010
Formas - Adélia Prado
De um único modo se pode dizer a alguém: “não esqueço você”A corda do violoncelo fica vibrando sozinha sob um arco invisívele os pecados desaparecem como ratos flagrados.Meu coração causa pasmo porque batee tem sangue nele e vai parar um diae vira um tambor patéticose falas no meu ouvido:“não esqueço você”Manchas de luz na parede,uma jarra pequenacom três rosas de plástico.Tudo no mundo é perfeitoe a morte é amor.
De um único modo se pode dizer a alguém: “não esqueço você”A corda do violoncelo fica vibrando sozinha sob um arco invisívele os pecados desaparecem como ratos flagrados.Meu coração causa pasmo porque batee tem sangue nele e vai parar um diae vira um tambor patéticose falas no meu ouvido:“não esqueço você”Manchas de luz na parede,uma jarra pequenacom três rosas de plástico.Tudo no mundo é perfeitoe a morte é amor.
quarta-feira, 10 de março de 2010
chama "descarrego"
De duas, uma. Peço picolé mesmo com dedos necrosados, insisto no uso da luva, mas zombam. Zombam porque são adornados com gordura. Em mim é lacuna e comento com amigo magrélico: "não sofremos mais quando está frio?". Cabeça concordante, o nariz vira fuçinho e moça, por favor, um picolé de Talento. Agora tem. Tem até picolé de Batom. Seu filho merece. Pensei um monte de coisa pra escrever enquanto vinha até você e esqueci tudo, ou então é presença paterna que trava o troço. Preciso morar sozinha, me encavernar e passar o mesmo vestido uma três vezes. Aprender finalmente, a fazer um empadão. Socar a massa. Socar bife. Se me chama pra sair no tapa, eu apanho demais. Mas soletro maldições incríveis que tanto guardei. Crueldade estala quando periga. Estou dentro de um carro, bebendo uma garrafa de vinho, esperando dar a hora de entrar no teatro. Tomei abuso de teatro, logo eu, logo eu, não fique triste, nem pense que é um desperdício, você que me viu num palco há 4 anos atrás. Tive vergonha, mas vergonha é a esperança de uma criação, tosca e breve, mas sim, uma cria. A moça que passa, acompanha a moda. Ela lê as revistas especializadas, ela corta o cabelo-cuia-franja (saudade de ver a sobrancelha das mulheres e suas molduras inquietas), ela compra a calça que é tendência. Mas ela não cabe naquele espaço. O andar não se adapta à tal corpo estranho, e entre os meus dentes roxos, eu tento sua libertação, mas também eu sou muito, muito reservada. Achei incrível terem dito isso para mim há umas 3 semanas. Foi Bruna que disse. Poesia sabe qual papel é ruim e qual caneta puxa muito. Reservada esperando resposta de algum ponto do país, tomando porrada da tecnologia e pensando em números para a mega-sena. Os passantes, se fosse no Centro da cidade, estariam me desejando, apenas por conta do falo gelado na boca. Nunca mais pedi sorvete na Carioca, as visualizações fellatiais me irritam bastante, principalmente de quem tenho verdadeiro nojo. Mas o verdadeiro nojo só começa se os olhos viram gulosos, não sou tão cruel a não ser que tenham feridas abertas faciais. Agora muita gente escreve assim, tudo direto, onde começou essa urgência? Desenfreada. Minha digestão nunca mais foi a mesma depois da doença terrível mexicana que adquiri: verme. Mamãe tenta me sondar para parar de comer carne, mas bem sutilmente, pois não conheço outro modo de existência da minha mãe sem ser esse, de modo que às vezes me irrita tanta calma zenística. Eu disfarço ciúmes pensando em picas alheias. Infantil que só numa creche. Essa semana viverei canhota. O almoço já foi mais difícil e mouse com a esquerda também complica o cerebelo, mas acompanho meu avô numa viagem lisérgica ruim ao mundo do Alzheimer e minha mãe que só consegue me chamar de Lúcia, e me adianto logo em cuidar desse meu bem mais valioso: meu cérebro. Já disse que o cérebro é como o fundo do mar e conclui ontem que sou abissal. Abissal arisco, domesticado esquece o risco? Me deixando levar. Só acredito no coração de agora em diante. Parecia que ontem também, mas é a partir de agora, que só vale essa mão fechada no peito.
segunda-feira, 8 de março de 2010
SS
Finalmente (ou infelizmente pela saudade que já sinto) acabei de ler Diários da Susan Sontag. Paquerei o livro em Londres, mas temi pela minha deficiência na língua e como queria entender tin tin por tin tin, esperei um tempo. Sendo que ler em inglês seria mais próximo, traduções pecam, mas não senti o frenesi literário que sinto quando um livro me clama. E eu respeito esse momento sagrado que é abrir a capa, respirar fundo e desejar boa viagem. Bem, até que o livro pulou na minha frente de novo, e aiqueridículo alguém desejar feliz dia pra mim porque hoje é 8 de março, me rubro e a veia da testa patrocina a Wolksvagen, ui, mas sim, sim, sim, Susan Sontag, o livro chegou a mim e me ganhou, e agora o que fazer com tudo isso, onde encaixar e o que ler depois? Chico Bento e afins? Só posso. Afetada, afetada, estou afetada.