domingo, 5 de junho de 2011

texto pro ornitorrinco sobre cinema

Diaba
(ou Tentei)


A primeira vez que eu fui ao cinema ou a primeira vez que eu lembro de ter ido ao cinema, foi a Kátia que nos levou. Eu, Bernardo e Léo, meus dois irmãos mais velhos. Se você não me conhece, dizer isso: “meus 2 irmãos mais velhos”, sempre ajuda um pouco. A Kátia foi nossa empregada durante 10 anos, mas ela era muito esperta e minha mãe sabia disso e a ajudou a abrir uma padaria lá na Fazenda Botafogo. Sabe onde é? É longe de onde você mora. Nós fomos à inauguração. Foi emocionante e as pessoas olhavam muito pra gente. Mas sim, a primeira ida ao cinema. Era o Carioca, o maior cinema da Tijuca. Escadaria, mármore, cortinas, codiloco. Eu fui carregada. Não me questionaram. Sentei ao lado da Kátia. Talvez pipocas, talvez Mentex. Era “A lenda”, um lance floresta mística, fadas, unicórnios, mas nem por isso, era um filme pra criança. Pois lá pelas tantas, SURGE o diabo. O demônio. O diabo mais diabo de toda a história da minha vida de 5 anos. Só lembro que comecei a chorar e não parei. As outras crianças ou adultos começaram a fazer “SHHHHHHHHHHHH” e Kátia me levou pra fora, tomar um picolé de limão, tentar esquecer a visão do monstro. Nunca mais dormi sem botar as mãos nos ombros e comecei a precisar de abajour. Depois fui pra rir com os Trapalhões, minha mãe arriscou a própria sanidade e a minha, me levando pra ver coisas como “Léolo”, com 9 anos; veio a escola, veio a identidade falsa pra ver “Cassino” e eu nunca mais ouvi tanto FUCK na vida; veio a primeira tentativa de beijo, veio também um tarado que botou o pau pra fora e bateu uma do meu lado (eu nunca tinha visto um pau duro na vida, eu tinha 16 anos). Ao invés de ir embora correndo, como minha prima sugeriu, eu sentei atrás dele e comecei a chutar a cadeira. Eu tenho dois irmãos mais velhos. O filme? “Melhor Impossível”. Veio o shopping center, veio a pipoca de microondas, veio o fim da Tijuca. Fui ao cinema sozinha. Não chorei em alguns finais, mas bem chorei no metrô das 23:47. Esse eu lembro bem, foi “Céu de Suely”. Teve também “Luz silenciosa”, onde Lucas e eu nos entregamos de tal maneira, que ficamos suspensos, atordoados. Um casal ao lado comentava em voz alta sobre uma cena “QUE RIDÍCULO”. Semi cortaram nossa catarse. Comecei a cuspir no chão deles. Cuspi, cuspi. Cuspi no chão do Laura Alvim, perdão. O filme acabou e fomos em direção ao mar tentar nos acalmar. Um carro passou quase nos atropelando, era o casal COMENTARISTA-CORTADOR-DE-ONDA do cinema. Perguntaram “Que porra é essa de ficar cuspindo?” Nós não falamos nada e mostramos nosso rosto. Nosso rosto afetado pelo cinema. Eles saíram sem cantar pneu. Sorte no cinema. Eu gosto dessa frase. É raro, mas quando é, nossa. Veio muita coisa. E com medo de ser chata, nostálgica e repetitiva, termino do começo. Aluguei “A lenda” ano passado. Com Lucas, claro, sozinha seria assombroso rever. Fui para o sítio, o que poderia aumentar o medo, e revi o diabo. Não tive medo, fiquei feito louca, fascinada com o ator. Faltou contar também do dia do rato no cinema, do menino com bafo, da primeira vez que vi minha cara no Odeon, do filme 3D sobre o espaço no museu de ciência de Londres, da comédia romântica que eu faço a melhor-amiga da personagem da Cléo Pires e estréia (acentuarei pra sempre) agora dia 10 de junho. Chama "Qualquer gato vira-lata". De punheteiros na Tijuca até uma estréia no Le Blond, posso até dizer que tô bem, né? Sorte no cinema.

3 comentários:

  1. sempre bom te ler.
    e bom saber que vc estará no cinema. verei :)
    não me lembro bem, mas meu primeiro cinema eu morava em Brasília, e meu pai me levou para ver Super Xuxa contra Baixo Astral!
    Mas como, para variar, estávamos atrasados, o filme já havia começado e levei um susto ao ver a cara do Guilherme Karan naquela sala escura, acho que foi como o "seu" diabo...
    Gosto disso do cinema, de dividirmos as sensações que temos ao ver algum filme.
    Se eu tivesse no mesmo cinema que vcs, ajudaria a cuspir no chão de quem estragasse a onda!rs
    beijo.

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  2. Que delicia lembrar todas as "primeiras" no cinema. E as em outras coisas, que listamos na memória.
    O meu primeiro filme no cinema, eu nao lembro, mas a primeira vez que fui sozinha, foi em Paris. Até entao, eu pensava aqui no Rio que me olhariam e pensariam: que triste, menina sem amigos. Descobri o prazer incrivel, e com a carta do cinema eu tomava café cinema, almoçava cinema e se desse, jantava cinema. Me sentia feliz sem ter amigos, porque minha experiência ali dentro era muito intensa.
    Me lembro que no meu aniversario de 12 anos eu dancei no fundo da sala do cinema, porque fui assistir spice girls com minhas melhores amigas. E me lembro que o primeiro show que vi na vida foi Fabio Junior, apesar disso nao ter a ver com o assunto.

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  3. Sabe que enquanto eu lia esse post começou a tocar uma musiquinha na rua, dava pra saber que a pessoa não entendia lá muito de música, mas eu estava curtindo. Assim que terminei de ler, minha colega me solta essa: "que música irritante". Mas eu não cuspi, achei engraçado, ri. Comecei a digitar no ritmo da música, ela riu também. Imaginei que se eu estivesse de mal humor talvez eu pudesse ter odiado a música.

    Também chorei muito na minha primeira vez no cinema, eu tinha dois anos, foi assistindo O Rei Leão. Chorei porque precisava, PRECISAVA ver de novo. Mamãe não deixou ($$$). Depois acabei ganhando um VHS e pude ver o Mufasa morrendo quantas vezes quisesse.

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