terça-feira, 27 de setembro de 2011

cosme & damião
















27 de setembro de 2mil&5: alto paraíso. tinha ligado pra minha mãe na noite anterior. "o caboclo do seu pai disse pra você oferecer umas balinhas pra mata". parece diferente, mas eu já era acostumada a esse linguajar da família. no dia seguinte fui na sorveteria/farmácia/armarinho da cidade e comprei uns caramelos.
todos, menos j.c, concordamos que a visita ao parque nacional da chapada dos veadeiros seria feita com papel forte na língua. o cerrado era inédito e um novo amigo insano & egípcio nos acompanhou. não era feriado, não era sábado, o parque era nosso, os peitos eram pro vento. pedras, força e água. "nunca vai acabar a água do mundo, nunca". os galhos do centro-0este eram negros e se destacavam de uma maneira hipnótica. mas é de queimada ou é da natureza negra?
pulei de pedras, nunca era a primeira, lógico. os sanduíches amassados nas bolsas, a paranóia de estarmos muito queimados, mais quedas d'água. a pedra era a pedra, mas era eu, era ela, era ele, você sabe do que eu estou falando. inacreditavelmente encontro uma amiga do trabalho do meu pai, inês era figura, engraçada, estava com a namorada e outras amigas. segurei minha mania hiperbólica (ainda mais no estado) com a coincidência do encontro. já não lembro se ela viu meu peito. ou se nessa hora eu estava coberta. já não lembro.
me chamaram pra ir numa gruta, conforme fomos entrando ouvi barulhos de morcegos e realmente vi um. claustrofóbica e com medo do escuro, resolvi sair. fiquei sozinha naquele universão, entrei n'água, a cachoeira era tão alta que uma faixa que proíbe passagem das pessoas, geralmente amarela e preta, demarcava até onde poderíamos nadar. nisso, uma cobra d'água, quase transparente passa ao meu lado lentamente. a gruta e os morcegos me assustaram, não sei como explicar que a cobra não. quieta mas em suspensão, a acompanhei até desaparecer.
o nosso guia só ria. junior. 19 anos talvez. local. "nunca tive um grupo tão louco". oh junior, perdão. andamos muito. mil trilhas que fizemos com amor, COM AMOR, andar era o paraíso, era a garantia de um novo cenário. "mas aqui está tão bom", alguns diziam. mas lá também vai estar e de fato, estava.
num dos trajetos, de repente lembrei de minha mãe e do caboclo do meu pai. era dia de cosme & damião, afinal. e meus caramelos já quase quicavam na bolsa, sentindo a mata. comecei a chorar. não choro muito na frente dos outros, mas chorei, chorei, me emocionei. é triste a perdição da palavra EMOÇÃO, mas o que aconteceu é que eu me emocionei muito.
pedi pra me deixarem a sós, com a mata, eu que sempre fui tão medrosa, a sós no centro do país, sapos amarelos me olhavam, cobras d'água me rondavam, e eu quis ficar só. o que relato agora é a pura verdade, com ou sem lisergia, cabe a você querer ou não acreditar, por que aconteceu.
me isolei num trecho da mata, cantei uns pontos, pedi proteção pra minha criança interior, a que eu não deixo crescer e que bom, e que tesouro, coração, que tesouro. retirei os caramelos da bolsa, e meu elemento é terra, meu amor, não me chama pra passear de iate de luxo, nem pra voar tal qual pássado que eu prefiro colocar o pé no chão, sem chinelo, essa sou eu. quando coloquei os caramelos em cima de umas folhas, na terra, as folhas abraçaram meus doces e os engoliram. aos prantos, agradeci o sentido, o visto e voltei para os amigos.
o parque iria fechar, a gente estava no auge da abertura, voltamos pra vila, tomamos um sorvete na sorveteria/farmácia/armarinho, a luz faltou, causando uma tensão boa. um homem nos vendo ávidos por mais uma aventura nos alertou sobre as águas termais, ele tinha um carro grande, desses com caçamba, e poderia nos levar.
chegamos no céu. no meio da floresta, uma piscina natural, com água pelando vindo debaixo da terra, magma, lavas, núcleo. 10 amigos e 2 desconhecidos dentro de uma piscina, onde vez ou outra pulavam uns sapos, no inícios as meninas fizeram corinho de horror, eu incluída, claro, mas aos poucos fomos nos acostumando. as árvores eram altas, mas só eram a moldura ao olhar para o céu, o miolo eram trocentas estrelas. orquestra dos bichos noturnos que tanto aguentaram o sol escaldante pra finalmente agora se mostrar também. fizemos uma roda da massagem, foram muitos quilômetros percorridos no parque, a água quente curava, mas o toque dos amigos ajudava também.
voltamos no carro do desconhecido, agradecemos e ainda dentro da barraca comentei com joana e tainá: "seus cabelos estão roxos nas pontas".
não lembro o que eu sonhei. porque eu já tinha.

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