segunda-feira, 20 de agosto de 2012

nau

na umbanda, o dia de iemanjá é comemorado dia 15 de agosto. é o sincretismo afinando com nossa senhora da glória. pra mim, os dias são os dias. tento reduzir a importância, mas ao mesmo tempo estou estudando astrologia com toda força do meu cerebelo. acredito nos festejos. os naturais e selvagens, os comerciais eu tenho vergonha e meus pais sabem disso, não esperam presentes e nunca me deram no dia das crianças. trauma nenhum. ensinamento.
pois então era dia de iemanjá, eu me encontrava feliz, coisa rara pra agosto. me percebi mais reclamona do que triste nos últimos meses. tristeza é um troço profundo e quase doente, e se meu nome me foi concedido é preciso fazer justiça a ele. vamos lá, tudo bem, vamos lá, tudo bem. quantas vezes eu precisar escrever e cantar isso.
senti que queria agradecer, não pedir. já vi muita gente no centro espírita do meu pai pedir coisas. já vi um senhor, quase mendigo, agarrando com toda força dos seus dedos um bilhete de loteria. eu também jogo, mas não agarro. tem que ter humor. ele levava aquilo a sério. eu só queria agradecer. na casa dos arquétipos. na casa que frequento desde criança e costumava rir ao ver meu pai encorporado. imagina. meu pai, que trabalha no banco do brasil e fumava parliament e ouvia barry white ou raça negra aos domingos, meu pai, um metro e noventa e seis, falando que nem um velho (na sessão de pretos velhos) ou que nem criança (na sessão de cosme & damião). era hilário e se meu olho cruzasse com meus irmãos, quá quá quá.
mas eu ia, sempre ia. não obrigada. minha mãe perguntava "quer ir?". eu sempre disse sim, estranho.
as primeira vezes me perdia na parede, nas imagens, na janela que dá para uma rua em são cristóvão. batia palma, cantava os pontos bonitos. mas me perdia também. fui crescendo e comecei a entender o poder da concentração. me esforço nela. sou franga ainda. sou facilmente distraída. minha mãe é buda. medita há 30 anos. eu tenho 30 anos. minha mãe medita desde minha existência. ela tentou me levar. não consegui. meu corpo é grande, meu coração é enorme. me exalto. me exaspero. o centro entende mais meus metros. posso bater palma, posso esticar a perna. vez ou outra me chamam no meio. eu danço com quem me chama. me arrepio quase sempre. não recebi nenhum chamado. não sei se quero. oscilo muito. meu pai recebe desde os 17. já tive uma experiência forte, depois conto se não o texto não vai caber nem na minha cabeça.
pois então era dia de iemanjá. soube em 2007 que era filha dela. com xangô. protegida por oxalá. frisaram. sempre me senti protegida. tenho vida noturna. não morei na zona sul. sempre tive que voltar. além túnel. dirigindo. taxi. loucona. ou não. nunca aconteceu nada de ruim. pepinos mil. galhos mil. ruim? não. sou filha dela. dele. protegida por oxalá.
opa.
fiz um espetáculo chamado "nau" com pessoas que amo além túnel, além vida. lucas, marcio, bruna, andré. fizemos porque mergulhamos. porque sabemos o que é abrir o olho embaixo d'água e ver uma parte do corpo da prima, do primo. fizemos porque nos lambemos depois da praia, sal sal sal sal sal sal. fizemos porque somos grandes e sabemos da enormidade que é o oceano. foi muito importante ter feito isso. foram 3 dias. senti saudade até de ser atriz, quem diria. tive uns sonhos tesudíssimos. sempre, sempre, SEMPRE sonhei com água. quase todo dia da vida sonho com água. foi meu primeiro assunto com lucas. o fato d'eu sonhar com água. ele disse que tinha a ver com sexo. que tenha.
a "nau" me sacudiu forte. com todos os sentidos. fui puro sentido, aliás.
minha vênus em aquário faz isso comigo, que bom, que ufa gostoso.
no centro, no dia da festa de iemanjá, sentei ao lado da minha mãe. minha vó e meu irmão na frente.
festa bonita, senhorinhas lindas, homens bonitos, inclusive meu pai.
é engraçado perceber a hora que um ponto começa e meu pai já dá uma balançada. e eu penso: "é agora, ele vai receber".
meu pai, 1.96m, moreno, já quase careca, mas ainda com bigode, meio gordo, meio árabe, mas na real é filho de nordestino, meio estrábico, olho verde musgo, começa a sentir uma coisa intensa, bate palma diferente, fecha os olhos, e se encaminha ao altar, ele agradece e vai cumprimentando todos os outros médiuns. chega na beira e olha para a gente, o público. ele está recebendo uma entidade feminina, e é a coisa mais linda do mundo aquele homem pelo qual eu nasci, eu-porra, dentro do saco dele, entrando dentro da minha mãe, meu pai, lindo, LINDO, recebendo uma entidade feminina, nossa. choro. choro baldes. rios. choro mares.
conforme os pontos (as músicas) vou vendo a filiação de cada um. depois cantam músicas de oxum, mamãe pisciana chora de um jeito lindo e contido e francês, é filha de oxum, claro, confirmo depois. minha vó só se anima e fica grande no gestual com ponto de iansã, filha dela, claro. há muito tempo, quando minha vida era outra, o caboclo do meu pai costumava me chamar ao centro. dizia coisas. hoje não. não disse nada. fiquei esperando. chamaram meu irmão. dançaram com ele. meu pai, quer dizer, a entidade que meu pai recebe, chamou meu irmão, várias vezes. eu fiquei esperando. mas não, nada. hoje não. hoje nada.

depois pensei: eu estou bem, eu estou feliz. isso não precisa de alarde. meu irmão precisa de mais carinho e cuidados, levem-no, isso, vamos cuidar do bernardo.
mais lágrimas. mais choro. sessão com pontos de entidades femininas é assim mesmo.
acabou. abracei meu pai e disse "foi lindo", meu pai meio duro, meio de volta, meio sem jeito, meio ascendente em virgem que ele tanto negou só diz:  "né"
volto pra casa com outra rosa branca, a primeira me foi dada na noite na "nau".

peço mar aberto pra marcio, bruna, andre, lucas, fabinho, thomas, e todos os outros que nos ajudaram pra que isso existisse, pra que isso pudesse ser mostrado, pra que nossa petulância resultasse em algo.


na rua de são cristóvão, noite quente, procuro a lua no céu, e encontro um fiapo.
dizem que a lua cheia é a mais intensa. questiono.


2 comentários:

  1. Meus olhos molharam um pouquinho. Filha de Iemanjá é chorona mesmo, né?

    você com esse vozeirão só podia ser filha de xangô mesmo. =)

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  2. eu só vi alguns vídeos do evento e senti muito isso de “encorporar”, de arrepio. agora ao ler aqui, pensei: tinha que ter raiz assim transcendente pra toda aquela transcendência de voz, de letra e de olhar! sobre receber chamado, eu acho mesmo que você é quem chama! e chama coisa muito boa em quem te ouve cantando e dizendo. chama vontade de estudar coisas invisíveis, de dançar coisas não coreografáveis, de escrever sem a mão na cabeça. neste post a lindeza se sentiu em casa, deitou no sofá de pernas pra cima.

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