outro antigo
por algum motivo relacionado à grana & preguiça, não tenho som no carro. entendam também que trabalho com música e apesar do prazer magistral que recebo com essa troca, prezo por momentos onde ninguém cantarola ou nenhum rádio me atropela. lembro uma vez em arraial do cabo, num passeio de barco, onde não éramos os únicos na embarcação. visitamos grutas e adentramos alto-mar ao som de um axé estrondoso. lucas ficou nervoso, pediu pra diminuir e entenda aqui que foda-se ser axé, também poderia ser a banda gelada do momento, o J. Quest de Ohio, sei lá. era barulho num confronto tenebroso com o barulho que o céu tem, que o mar faz. as pessoas ficaram revoltadas com o sumiço do som. explicamos que trabalhávamos com música e tudo que queríamos era ficar sem ouvir nada, apenas o som que o passeio oferecesse. olharam com cara de por onde sai o cocô. seguimos. fiz grandes composições no silêncio de ar condicionado do meu carro. não consigo chegar em casa e ligar o rádio ou meu winamp (percebam minha velhice naftalinosa). tenho grande amor por música, das poucas coisas que são pra sempre, música no topo. é eterno. mas o silêncio também me traz pausa nos soluços. ponto. ponto. ponto. até aí tudo bem. estou precisando decorar uma letra de uma música, publicidade, enfim, um lance. lucas tem ipod, não usa nunca, só pra decorar arranjos e afins. me emprestou o ipod pr'eu ficar ouvindo ad infinitum a tal canção que preciso decorar pra ontem. aí a música acabou e tinha mais música depois. e o trânsito era feroz e aqueles 2 cotocos redondos acoplados nas minhas orelhas me impediram de xingar o motorista de ônibus que me fechou porque "you're my life, you're my hope, you're the chain, you're the rope". depois estacionei o carro e fui andando com gravão nos ouvidos que seria até perigoso se alguém me chamasse ou uma ambulância tivesse que subir na calçada bem ali onde eu me encontrava. sempre a tive na cabeça e posso atingir a nota que eu quiser ou relembrar uma letra qualquer, mas ontem fez sentido essa coisa de andar e ser homem, walkman.
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