quarta-feira, 30 de novembro de 2011

troncha

deu tudo certo, mané retorno de saturno o quê, brasil, correu tudo bem. mentira. se você pergunta isso pro lucas, ele diz: CAÔ. pra ele não, porque daí o mergulho é profundo, garganta, corte, tudo profundo. teve essa noite da iluminação, que eu disse olhando na cara dele, chorando, porque estava emocionada, comovida de pensar aquilo, eu disse:"eu estou muito feliz com os lugares que eu tenho chegado na minha cabeça". ele ficou muito feliz e disse que queria ser um neurônio meu só pra saber melhor whatthefuck. essa noite de iluminação, que eu saí, vi de fora, voltei, sosseguei o facho, o cerebelo, os demônios sempre preparados nos ouvidos, sossegay, queria escrever melhor, claro. sempre. óbvio. até porque foi um lance muito forte, minha cabeça chegou num lugar que ainda nunca. mas passar é difícil. eu tô fazendo só pra ter 67 anos e reler e pensar: "lembra dessa noite, caslu?" ele talvez diga não, mas eu vou ter chegado n'outro lugar. e não vou me importar.

domingo, 20 de novembro de 2011

Saturnina

Tenho 9 anos e está na moda ter caderno de perguntas. Com sorte, o Rodrigo Barbosa vai responder, e eu vou saber um pouco mais sobre ele. Na minha rua quase não passa carros, as pessoas brincam de tudo. Vôlei, taco, bonecas e os mais adolescentes (eu tinha HORROR à tal palavra) ficam só de papo na calçada.
A primeira pessoa a responder meu caderno de perguntas foi minha vó Marphisa. Ler hoje em dia é quase morrer de rir. Ela já era senhora e respondia senhoramente.
Estava na moda responder caderno de perguntas, as pessoas se sentiam importantes. Sendo assim, meu caderno caiu nas graças dos adolescentes da rua. Esses não me zoavam, fui muito feliz na rua. No colégio é que a coisa foi mais complicada.
Quando o caderno foi devolvido, fui ler curiosa. Nomes que eu até então só sabia quem eram de longe.
Eu tinha 9 anos, um pouco de audácia, mas eu tinha 9 anos. Pense.
Uma das perguntas era: "Um país bonito? Um planeta?"
A primeira era sempre respondida. "França, Itália, Brasil" ganhavam, creio eu. Já pra segunda, fui bem ridicularizada:
"Só conheço a Terra, querida, e você?" ou "COMO ASSIM PLANETA BONITO, TÁ LOUCAAAA?"
A última pergunta do caderno era: "Faça uma pergunta pra mim"
Uns foram fofos, outros atacaram: "Qual planeta você vive?" ou "Quando for pra outro planeta, me chame, tá?" De 22 pra baixo.
Não cheguei a ficar ofendida, porque eu realmente era muito distraída na infância, foi o colégio que me deixou vez ou outra com idéia fixa e mania persecutória. Minha essência é distraída. Portanto não me ofendi, mas fiquei com pena deles, que só conheciam um planeta.
Obrigada, mamãe.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Just in case

Se liga> sonhei que colocava música no microscópio. Calma, antes eu estava numa praia de água transparente, meu brit-sobrinho comigo. Eu dizia: "Passa a mão na estrela do mar, Rafi", ele respondia "Não, tia!", doido. Aí depois é que eu colocava música, não sei como, perdão, no microscópio, rolavam mil colcheias, sabe colcheia? Era meio como o céu negritude de lugares afastados, só estrelas, umas nebulosas e puro preto bonitão. DEVE SIGNIFICAR MEU ESTREITAMENTO COM A MÚSICA, TÔ VENDO MELHOR, MAIS DE PERTINHO. Ou não. É uma pena que o "ou não" já é tão do Caetano. Saco. Hoje ouvi "quereres" e chorei. Mandei pro Lucas. É de viés.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

a malvada (all about eve)





cheiro

cheiro de boceta atrai homens e animais também.
esqueci um biquini usado e mezzo lavado pendurado na janela. preguiça de lavar no tanque, acabei só passando uma água e deixei pra depois.
hoje foi depois, e quando entrei no box do chuveiro, várias formigas comiam meus restinhos de ovulação. de onde surgiram tão rápido? moro no sexto andar. foi lá debaixo? foi de dentro das paredes?
um mini tiny weenie narizinho de formiga consegue sentir um resto mortal de algo que não fecundou, mas tem cheiro de possibilidade.
homens e formigas sentem esse cheiro. de possibilidade.



segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Sylvia Plath (dos favoritos)

Elm

I know the bottom, she says. I know it with my great tap root;
It is what you fear.
I do not fear it: I have been there.

Is it the sea you hear in me,
Its dissatisfactions?
Or the voice of nothing, that was you madness?

Love is a shadow.
How you lie and cry after it.
Listen: these are its hooves: it has gone off, like a horse.

All night I shall gallup thus, impetuously,
Till your head is a stone, your pillow a little turf,
Echoing, echoing.

Or shall I bring you the sound of poisons?
This is rain now, the big hush.
And this is the fruit of it: tin white, like arsenic.

I have suffered the atrocity of sunsets.
Scorched to the root
My red filaments burn and stand,a hand of wires.

Now I break up in pieces that fly about like clubs.
A wind of such violence
Will tolerate no bystanding: I must shriek.

The moon, also, is merciless: she would drag me
Cruelly, being barren.
Her radience scathes me. Or perhaps I have caught her.

I let her go. I let her go
Diminshed and flat, as after radical surgery.
How your bad dreams possess and endow me.

I am inhabited by a cry.
Nightly it flaps out
Looking, with its hooks, for something to love.

I am terrified by this dark thing
That sleeps in me;
All day I feel its soft, feathery turnings, its malignity.

Clouds pass and disperse.
Are those the faces of love, those pale irretrevables?
Is it for such I agitate my heart?

I am incapable of more knowledge.
What is this, this face
So murderous in its strangle of branches?--

Its snaky acids kiss.
It petrifies the will. These are the isolate, slow faults
That kill, that kill, that kill.


Olmo

Sei o que há no fundo, ela diz. Conheço com minha própria raiz.
Era o que você temia.
Eu não: já estive lá.

É o mar que você ouve em mim.
Suas frustrações?
Ou a voz do nada, essa é sua loucura?

O amor é uma sombra.
Como você chora e mente por ele.
Ouça: estes são seus cascos: fugiram, como cavalos.

Vou galopar a noite inteira assim, impetuosa,
Até que sua cabeça vire pedra, seu travesseiro vire turfa,
Ecoando, ecoando.

Ou devo te trazer o borbulhar das poções?
Isso agora é chuva, esse silêncio imenso.
E este é seu fruto: branco-metálico, como arsênico.

Sofri a atrocidade dos poentes.
Queimada até as raízes
Meus filamentos ardem e ficam, emaranhados de arames.

Meus estilhaços se espalham em centelhas.
Um vento violento assim
Não suporta obstáculos: preciso gritar.

A lua, também, não tem pena de mim: me engole
Cruel e estéril.
Seus raios me arruínam. Ou quem sabe a peguei.

Eu a deixo ir, ir
Magra e minguante, como depois de uma cirurgia radical.
Seus pesadelos me enfeitam e me possuem.

Dentro de mim mora um grito.
De noite ele sai com suas garras, à caça
De algo pra amar.

Sou aterrorizada por essa coisa negra
Que dorme em mim;
O dia inteiro sinto seu roçar leve e macio, sua maldade.

Nuvens passam e se dispersam.
São estas as faces do amor, pálidas, irrecuperáveis?
Foi pra isso que agitei meu coração?

Sou incapaz de mais compreensão.
E o que é isso agora, essa face
Assassina em seus galhos sufocantes? -

O beijo traiçoeiro da serpente.
Petrifica o desejo. Esses são os erros, solitários e lentos,
Que matam, matam, matam.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

knock knock

insistem na minha atriz, insistem.
e eu insisto em bater três vezes na minha cara quando falam alguma desgraça.

sábado, 1 de outubro de 2011

a)

eu gosto quando o sol me cega
e qualquer um vira uma surpresa

terça-feira, 27 de setembro de 2011

cosme & damião
















27 de setembro de 2mil&5: alto paraíso. tinha ligado pra minha mãe na noite anterior. "o caboclo do seu pai disse pra você oferecer umas balinhas pra mata". parece diferente, mas eu já era acostumada a esse linguajar da família. no dia seguinte fui na sorveteria/farmácia/armarinho da cidade e comprei uns caramelos.
todos, menos j.c, concordamos que a visita ao parque nacional da chapada dos veadeiros seria feita com papel forte na língua. o cerrado era inédito e um novo amigo insano & egípcio nos acompanhou. não era feriado, não era sábado, o parque era nosso, os peitos eram pro vento. pedras, força e água. "nunca vai acabar a água do mundo, nunca". os galhos do centro-0este eram negros e se destacavam de uma maneira hipnótica. mas é de queimada ou é da natureza negra?
pulei de pedras, nunca era a primeira, lógico. os sanduíches amassados nas bolsas, a paranóia de estarmos muito queimados, mais quedas d'água. a pedra era a pedra, mas era eu, era ela, era ele, você sabe do que eu estou falando. inacreditavelmente encontro uma amiga do trabalho do meu pai, inês era figura, engraçada, estava com a namorada e outras amigas. segurei minha mania hiperbólica (ainda mais no estado) com a coincidência do encontro. já não lembro se ela viu meu peito. ou se nessa hora eu estava coberta. já não lembro.
me chamaram pra ir numa gruta, conforme fomos entrando ouvi barulhos de morcegos e realmente vi um. claustrofóbica e com medo do escuro, resolvi sair. fiquei sozinha naquele universão, entrei n'água, a cachoeira era tão alta que uma faixa que proíbe passagem das pessoas, geralmente amarela e preta, demarcava até onde poderíamos nadar. nisso, uma cobra d'água, quase transparente passa ao meu lado lentamente. a gruta e os morcegos me assustaram, não sei como explicar que a cobra não. quieta mas em suspensão, a acompanhei até desaparecer.
o nosso guia só ria. junior. 19 anos talvez. local. "nunca tive um grupo tão louco". oh junior, perdão. andamos muito. mil trilhas que fizemos com amor, COM AMOR, andar era o paraíso, era a garantia de um novo cenário. "mas aqui está tão bom", alguns diziam. mas lá também vai estar e de fato, estava.
num dos trajetos, de repente lembrei de minha mãe e do caboclo do meu pai. era dia de cosme & damião, afinal. e meus caramelos já quase quicavam na bolsa, sentindo a mata. comecei a chorar. não choro muito na frente dos outros, mas chorei, chorei, me emocionei. é triste a perdição da palavra EMOÇÃO, mas o que aconteceu é que eu me emocionei muito.
pedi pra me deixarem a sós, com a mata, eu que sempre fui tão medrosa, a sós no centro do país, sapos amarelos me olhavam, cobras d'água me rondavam, e eu quis ficar só. o que relato agora é a pura verdade, com ou sem lisergia, cabe a você querer ou não acreditar, por que aconteceu.
me isolei num trecho da mata, cantei uns pontos, pedi proteção pra minha criança interior, a que eu não deixo crescer e que bom, e que tesouro, coração, que tesouro. retirei os caramelos da bolsa, e meu elemento é terra, meu amor, não me chama pra passear de iate de luxo, nem pra voar tal qual pássado que eu prefiro colocar o pé no chão, sem chinelo, essa sou eu. quando coloquei os caramelos em cima de umas folhas, na terra, as folhas abraçaram meus doces e os engoliram. aos prantos, agradeci o sentido, o visto e voltei para os amigos.
o parque iria fechar, a gente estava no auge da abertura, voltamos pra vila, tomamos um sorvete na sorveteria/farmácia/armarinho, a luz faltou, causando uma tensão boa. um homem nos vendo ávidos por mais uma aventura nos alertou sobre as águas termais, ele tinha um carro grande, desses com caçamba, e poderia nos levar.
chegamos no céu. no meio da floresta, uma piscina natural, com água pelando vindo debaixo da terra, magma, lavas, núcleo. 10 amigos e 2 desconhecidos dentro de uma piscina, onde vez ou outra pulavam uns sapos, no inícios as meninas fizeram corinho de horror, eu incluída, claro, mas aos poucos fomos nos acostumando. as árvores eram altas, mas só eram a moldura ao olhar para o céu, o miolo eram trocentas estrelas. orquestra dos bichos noturnos que tanto aguentaram o sol escaldante pra finalmente agora se mostrar também. fizemos uma roda da massagem, foram muitos quilômetros percorridos no parque, a água quente curava, mas o toque dos amigos ajudava também.
voltamos no carro do desconhecido, agradecemos e ainda dentro da barraca comentei com joana e tainá: "seus cabelos estão roxos nas pontas".
não lembro o que eu sonhei. porque eu já tinha.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

pow pow pow

Poucas letras de música me perturbam tanto quanto essa.
São muitas versões curiosas e maravilhosas, e essa letra, céus, ESSA LETRA.
Você pode ouvir essa, essa, essa, essa, essa, essa, essa ou essa versão.

I remember when i was a girl
Our house caught on fire
And i'll never forget the look on my father's face
As he gathered me in his arms
And raced to the burning building out on the pavement
And I stood there shivering
And watched the whole world go up in flames
And when it was all over
I said to myself
" Is that all there is to a fire ? "
Is that all there is?

Is that all there is?
If that's all there is, my friends, then let's keep dancing
Let's break out the booze and have a ball
If that's all there is

And when I was twelve years old
My daddy took me to the circus
The greatest show on earth
And there were clowns
And elephants
Dancing bears,
And a beautiful lady in pink tights flew high above our heads

And as I sat there watching
I had the feeling that something was missing
I don't know what
But when it was all over
I said to myself
" Is that all there is to the circus ? "

Is that all there is?
If that's all there is, my friends, then let's keep dancing
Let's break out the booze and have a ball
If that's all there is

And then I fell in love
With the most wonderful boy in the world
We'd take long walks down by the river
Or just sit for hours gazing into each other's eyes
We were so very much in love

And then one day
He went away
And i thought i'd die
But I didn't
And when I didn't
I said to myself
" Is that all there is to love ? "

Is that all there is?
If that's all there is, my friends, then let's keep

I know what you must be saying to yourselves
If that's the way she feels about it
Then why doesn't she just end it all
Oh no. not me. i'm not ready for the final disappointment
'Cause I know just as well as i'm standing here talking to you
That when that final moment comes
And i'm breathing my last breath
I know what I'll be saying to myself
" Is that all there is ? "

Is that all there is?
If that's all there is, my friends, then let's keep dancing
Let's break out the booze and have a ball
If that's all there is

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

um segundo

se uma pessoa cuja carreira você sempre questionou, de repente te elogia muito, o que você sente?
se importar menos com um elogio não é diminuí-lo.
e se importar muito com uma crítica não é fuder a cabeça.

você aí que já me contratou ou me resumiu: eu nunca fui atriz.
enganei vagabond geral.do.azevedo.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

susan sontag

se a gente acha que o nosso tempo está sobrecarregado de formalidades insinceras e vazias, a gente opta pela espontaneidade, até pelo comportamento indecoroso...boa parte da moralidade é a tarefa de compensar a própria época em que se vive. a gente adota virtudes fora de moda, numa época indecorosa.
numa época esvaziada pelo decoro, devemos nos educar na espontaneidade.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sobre o poder de uma ópera

(recebi por email)


Um belo momento de manifestação política do povo italiano:
Inesperado e emocionante, um momento na Ópera em Roma (em Youtube, encontram-se vários excertos desse acontecimento). Dia 12 de março de 2011, Silvio Berlusconi foi obrigado a encarar os fatos.

A Itália comemorava os 150 anos da unificação nacional, e preparou-se, na Ópera de Roma, uma apresentação especial de Nabucco, de Giuseppe Verdi, consagrada como obra símbolo daquela unificação, sob a regência de Riccardo Muti.

Nabucco de Verdi é a um só tempo obra musical e manifesto político: evoca um episódio da história dos judeus escravizados na Babilônia e inclui a ária famosíssima, “Va pensiero”, que os escravos cantam em coro. Essa belíssima ária converteu-se em hino de todos os povos e homens e mulheres que lutam pela liberdade. Verdi escreveu nos anos 1840, quando a Itália era parte do império dos Habsburgo e lutava pela independência e pela sua unificação. Além de Verdi, Giuseppe Garibaldi e Giuseppe Mazzini estavam, cada qual em sua área, à frente da luta pela unificação.

Antes da ópera, Gianni Alemanno, prefeito de Roma, subiu ao palco e denunciou cortes no orçamento para a cultura. Já foi surpreendente, dado que Alemanno é membro do partido que está no poder e foi ministro de Berlusconi.

Mas sua intervenção, num momento em que o público se preparava para assistir a obra, produziria resultado absolutamente inesperado – tanto mais que Sylvio Berlusconi estava presente.

Em entrevista ao Times, Riccardo Muti conta que viveu uma noite, de fato, revolucionária: “Primeiro, foi uma ovação. Depois, iniciamos a ópera. Tudo ia muito bem, até que chegamos à ária do coro, em “Va Pensiero”. Senti, imediatamente, que o público ficou tenso. Essas coisas não se explicam. Eu senti que a atmosfera mudara, que o público ficou tenso. Primeiro, estavam todos em silêncio. Mas, de repente, enquanto o coro avançava, cantando, foi-se criando, no ar, uma espécie de fervor. Sentia-se a resposta visceral do público à lamentação dos escravos “Oh, minha terra, tão bela e tão perdida...”

Quando o coro aproximava-se do final, já se ouviam os primeiros gritos de “Bis!” E começaram os gritos de “Viva Itália!” e “Viva Verdi!” O pessoal das galerias - os lugares mais altos e mais baratos - começou a jogar papéis picados – uns gritavam “Muti, senador vitalício!”


Embora já o tivesse feito antes, uma única vez, no La Scala, em Milão, em 1986, Muti não parecia decidido a conceder o “bis” de “Va pensiero”. Para ele, ópera é obra de arte no tempo, tem começo, meio e fim, não pode ser interrompida, nem pode recomeçar. “Achei que não faria sentido algum repetir a ária. Só se se criasse algo novo” – conta ele. – “Dar ao coro, um sentido especial”.

Mas o público já estava tomado. Então o maestro voltou ao seu pódium, mas voltado para o público e para Berlusconi. O que aconteceu pode ser visto aqui.

[Ouvem-se gritos de “Viva a Itália”]

O maestro Riccardo Muti diz: Sim, concordo que “Viva a Itália” [aplausos]. Mas... há mais de 30 anos, viajo pelo mundo. Hoje, como italiano, sinto vergonha pelo que acontece em meu país. Por isso, sim, concordo com que se cante outra vez “Va pensiero”. Não por patriotismo, mas porque hoje, enquanto eu regia o coro que cantava “Oh minha terra, tão bela e tão perdida”, ocorreu-me que, se a Itália continuar como vai, acabaremos por matar a cultura sobre cuja história a Itália foi construída. Então, nossa Itália será realmente “bela e perdida”. [Todos aplaudem, inclusive o coro, no palco; os cantores levantam-se para aplaudir.]

Muti: Desde que começou por aqui um “clima italiano”, resolvi calar-me, já há muitos anos. Gostaria que, hoje... Acho que deveríamos dar a esse canto um novo sentido. Afinal, estamos no teatro da capital, é nossa casa. O coro cantou magnificamente, a orquestra esteve perfeita, mas, se vocês concordarem, proponho que todos cantem, que nos unamos nesse canto, que cantemos todos.

Muti convidou o público a cantar, com o coro, o canto dos escravos, de Nabucco, de Verdi!

“Aquela noite, não vimos apenas a uma apresentação de Nabucco, fizemos uma declaração, da Opera de Roma, aos políticos italianos” – disse Muti.

sábado, 3 de setembro de 2011

dentrus - II



não sei se chorei mais lendo o email, enquanto o lucas tocava piano, também chorando, ou se chorei mais em 2007 quando tive medo, amigos. TIVE MEDO. tolinha. cagona do amor. e hoje aqui, toda achada. sorte dos cavalos que deitam pra comer na sombra. tô aqui.

dentrus

tem uma coisa que me une ao lucas que é bem bobo e sutil, mas faz diferença forte pra gente. o rio de janeiro é pequeno, dizem. não posso acreditar pois eu vivi (vivo) na parte norte da cidade. não sei usar bússola, dizem que é fácil, nunca vi uma, tento explicar pra um ou outro amigo que bate o pé dizendo que a tijuca é extensão da zona sul. eu chamo pra viver, pra passar infância, pra reconhecer os cheiros, mas já não daria mais tempo, eu luto dizendo que não, a tijuca é a tijuca, não é JAMAIS extensão da zona sul. lucas nasceu e viveu em petrópolis. veio pra cá depois. quase 20 anos. a maioria dos nossos amigos ou das pessoas com as quais trabalhamos tem zil histórias do colégio TAL da zona sul. da boate TAL da zona sul. eu e ele não temos. tenho pouquíssimos laços com gente do meu colégio, ele idem. nossos amigos, a vida foi dando na vida, não éramos pessoas de escola. sempre que tinha breves relacionamentos, eu passeei bastante uns bons (e ruins) 5 anos, pintava esse momento "onde você estudou? conhece fulano? já foi na situação tal?" eu não sabia de nada. poderia ser uma alienada, mas meu quarto sempre foi um TESOURO, minhas coisinhas, meu livros, minhas agendas, minhas miniaturas, a piscina no quintal, o sótão da minha casa, o altar do meu pai cheio de santos, eu jurava que alguns se mexiam, estátua me fascina, não é escultura, perdão, belas artes. é estátua. meu lugarzinho sagrado. era difícil dizer isso pra gente que queria saber se eu curti muito na wells fargo. escrevo certo? nem importa.
tudo isso pra dizer que eu não fui ao cep 20 mil do chacal ainda adolescente. já fui véia, vividiña. não que faça diferença, mas putz, talvez tivesse me ajudado com 16, a idade mais escrota até então. lucas tampouco foi. noites petropolitanas. ele é muito educado, o lucas. caslu.
em rodas com muita coisa em comum, muitos lugares parecidos, muitas praias e situações e coincidências, pra gente não. destaque. tudo na gente era inédito. tenho certo pavor de gente-referência. gente que cita MUITO outras pessoas, outras canções e acha explicação pra tudo em qualquer osho (zzzzzzzz) da vida. o que eu piro o cabeção no lucas é essa esquizofrenia dele da criação. quem pensa que o lucas ouve música, já que ele é músico, está muito enganado. o lucas não ouve música, gente. é tão lindo. ele tem até certo pavor. ele aceita os filtros. o que eu coloco, ele ouve. amigos, idem. mas ele não busca. ele cria. ele cria. é inspirador. e quando uma pessoa começa "porque nietzsche isso e clarice lispector aquilo..." (deixando claro todo meu louvor por esses citados), sinto uma certa síncope social, com vontade de dar um sacode do bem dado e falar:
"E O QUE VOCÊ ACHA, MEU AMOR?"
mas não amo essas pessoas que fazem isso, portanto.
semana passada o cep 20mil fez 21 anos. foi engraçado ver o chacal depois de ter lido a biografia dele. não que ele tenha contado coisas extremas, mas é um novo olhar, é sim.
se eu não parar de escrever nesse blog, não vou precisar de biografia, ou talvez as pessoas se interessem mais pelo
NO DIA 8 DE OUTUBRO EU ME APAIXONEI, MAS SÓ FUI DAR EM DEZEMBRO.
eu me interesso por tudo. chega a ser confuso. tudo é horrível. tudo é maravilhoso.
eu não tomo remédios, mas talvez deveria.
mas sim, no último cep, chacalício nos chamou pra cantar. pedi licença pra fazer uma performance astral. o nome era "não existe amor à primeira vista".
por trabalharmos juntos e cantarmos sobre o amor, as pessoas têm uma visão esquisitíssima que NASCEMOS UM PARA O OUTRO, QUE SOMOS ALMAS GÊMEAS, QUE SOMOS METADES QUE SE COMPLETAM.
parem, por favor, parem. reflitam. pensem bem. não existe nada disso. isso é cocô. eu não era um tronco andando e o lucas apenas pernas e UAU, nos encaixamos. não existe. não nasci pro lucas, nem ele pra mim, deus. deusas. relaxem. existe a sorte. e a manutenção da sorte. ganhei na loteria amorosa? ganhei. piramos. rimos pra caralho. temos tesão frêmito um no outro. e vamos vivendo. se você ganhasse 10 milhões na loteria, você não compraria apartamentos e e iria manter? estamos mantendo, mantendo. pois sim. fomos lá no cep. anunciei o nome da performance. e li. li emails que mudaram minha então MUITAS ASPAS vida MUITAS ASPAS.


lucas binario lucasbinario@hotmail.com
paraletícia novaes
data19 de dezembro de 2007 17:38
assuntoachei na rua
enviado porhotmail.com



Perguntando coisas pela rua, achei uma carta: dama. De paus.

Desculpe a choradeira.
Você é incrível e está muito próxima. Deu uma tristeza pelo inesperado.

Os 4 sambas são lindos.
Mais 40.

Te amo, seja qual for o movimento.




deletícia novaes letstellar@gmail.com
paralucas binario ,
lucas vasconcellos
data20 de dezembro de 2007 09:48
assuntoRe: achei na rua
enviado porgmail.com

Fiquei aqui com a página aberta há sabe-se lá quantos minutos. Achei de bom grado entrar no Google e ver o significado da Dama de Paus.
Princípio feminino e maternal. Fecundidade ou virgindade. Atração e proteção. Simbolismo lunar; água, mar. Receptividade, temperança, sabedoria. Mãe, esposa, namorada.
  • Mental: Confiança absoluta nos empreendimentos.
  • Anímico: proteção contra discórdias e desunião. Faz renascer a confiança.
  • Físico: grande energia interna, preservação nos negócios e na saúde.
  • (–) abatimento, confusão, vulgaridade; dificuldade para se livrar dos obstáculos.

    Nunca tive muito tato para as relações, embora viva escrevendo sobre isso. Não consigo demonstrar minha ternura, embora a tenha. Não sei que bicho vive dentro de mim que come isso. Verme, talvez. Agora botei uma música bonita pra ver se consigo escrever, visto que já estou com a página aberta há mais de 40 minutos. Lucas, Lucas, Lucas, quantas vezes eu puder escrever seu nome e cada vez que escrever sentir que você foi o grande achado desse ano, e olha que esse ano eu me desdobrei em zil funções, mas as coisas que a gente leva nessa vida não é o fato d'eu ter trabalhado na loja do meu irmão, ganhado uma grana e 3 cáries (ui). O que eu levo é você. É a AC. É o Lipe. Todas as risadas que me concederam após minhas palavras insanas, meus devaneios. Eu levo toda vez que você pegou no violão e cantou. Moço vulcão. Quando eu te vi chorando, era água querendo apagar lava. E eu perguntei onde doía só pra eu poder assoprar. O que acontece é que dá medo. Dos tatos, das especulações. E como eu vejo grandes planos pra gente, o tal do amor atrapalha. Dá tilt na cabeça. E eu não sei lidar, nunca soube, sou uma negação no amor. Embora, o ame. Eu amo o amor. Mas eu não sei viver com ele. Também você é incrível, e está além de próximo. É meio assustador até. Porque você chegou já dentro, sabe assim? Nem entrou, já estava aqui. Os 4 sambas só são lindos porque você existe. Na minha cabeça era só melodia, você tornou real, muito obrigada (além de ter causado inspiração, rá!). Aliás, aquela noite foi muito, muito especial. E mesmo que depois eu tenha entrado numa do afastamento, isso também foi bom. Fui pra casa quase tendo um aneurisma de tanto pensar no que eu fiz. Mas as coisas são o que têm de ser. "Foste em minha vida como o amanhecer, foste o que tinha de ser". É Vinícius isso? Acho que sim. Mas é assim. Eu quero romances, eu quero amor, eu quero tudo, eu sou um partido alto (hahahaha, que besteira). Mas de repente agora, embrionei, escondi a cabeça embaixo do casco. Mergulhei dentro. Mas te quero perto, te quero sempre. Meu Roberto de Carvalho. Mais 40 sambas, sem dúvida. O movimento é de vôo, mas vôo coletivo. Sabia que vão tirar os acentos circunflexos de vôo, enjôo? Lástima. A Língua Portuguesa chora. Voando, a gente se esbarra, e eu te prometo abraço sempre. Queria te ver antes d'eu viajar. Todos os beijos e todo amor que houver nessa vida.




    delucas binario lucasbinario@hotmail.com
    paraletícia novaes
    data21 de dezembro de 2007 12:43
    assuntoRE: achei na rua
    enviado porhotmail.com

    Ai Lettuce, Letícia Novaes,

    Tens uma música nova pra nós?

    És meu achado do ano tb. Acho que a gente se escreveu (se desenhou, se narrou, se musicou, se regou, se negou, se pegou, se embebedou e se chocolatizou) quase todos os dias depois que se conheceu.(clima verdadeiro de retrospectiva que vc plantou)

    Que coisa que coisa. Muito rara. Minha semelhante, cadê a aventurice? Cadê o casco translúcido pra ver tudo e ao mesmo tempo proteger-se?
    Momento de vida, total. Só sabe de si quem tá dentro. Tem épocas assim mesmo. Mas imprevistos sempre sempre.

    Não era pra eu ter essa tristeza , mas ela tá aqui, bem nítida 29 polegadas plasma cristal líquido. Um alfinete de algodão me espetando o lado esquerdo quando te lembro. Passará. Dois pássaros que voando se esbarram.

    Grava no celular a melodia do novo sucesso.

    Ontem na laranjeiras foi uma fritação. um movimento reveillon. "Despedida" minha até o ano que vem. Oh...que longe...

    Nosso acid está na gaveta. A praia vai ficar lá nos próximos quinhentos anos, tomara.

    Te beijo, minha saída pela esquerda (esse lado de novo).
    Vou dar uma sumidinha, silêncio pra sentir essa mini-tragédia e ser seu amigo (abraço prometido pra sempre) logo logo.

    Te escrevo as novas, Novaes.

    PS* Que carta boa segundo o google, não? Curti a água, sempre, derramando significados. Gostei da palavra anímico. Vou usar por aí.


    segunda-feira, 29 de agosto de 2011

    chica, bon

    o disco está ficando pronto. já tem nome. saiu duma poesia desse blog. do início do ano passado. quem for sagaz ou psyco, acha. por aqui escrevo pra mim. ou assim penso. meu amor, você me lê? curiosos, sintam-se bem.
    o processo de FEITURA dum disco pode ser bem chato, viu? tem todo um hiato, barriga, desde a criação de uma música até ela existir. não posso nem pensar em como funciona um vinil, ou fita, ou cd, que eu piro, eu passo mal de tanto ficar MESMERIZED. ano que vem faço 7 anos.
    mas sério, como funciona, brasil? você dá play e ouve minha voz naquela coisa redonda e espelhosa. minha voz ali dentro. coisa de maluco.
    hoje chupei um chicabon, mas deu merda pois tinha acabado de mascar um trident. de modo que parecia que eu tinha dentes sensíveis, e talvez até os tenha. arrepiou tudo. suei baldes no suvaco.
    dizem que é inverno. lucas me cheira antes de me beijar. acho sagrado até.
    mas sim, chupei o picolé na voluntários da pátria. que rua feia, meu deus. quanto carro, quanto barulho, quanta obra. fui chupando o picolé do metrô até a sorocaba, onde tinha um ensaio dum lance aí.
    é curioso observar como chupar um picolé pode afetar as pessoas. seja pra raiva. ou pro tesão. e sou bem sutil e suave. não acho que é um pau, porra. é um picolé, não tem mistério, nem mirabolância, nem salivação, e a cabeça derrete que só. PICOLÉ não é pau, caralho. POR QUE se incomodam?

    enfim, o disco estå quase pronto. curtiu esse acento agudo gordo? åååååå!
    tô tipo enloquecida da silva sauro.



    sábado, 27 de agosto de 2011

    Amo

    "Presenciei a morte dela. Ela viveu como mulher de talento e inteligência, morreu como filósofa. (...) Ela só ficou na cama nos últimos dois dias, e continuou conversando tranquilamente com todos até o fim. E quando não pôde mais falar, estando já nas vésperas da agonia, soltou um peido alto e disse, se virando: 'Ótimo. Uma mulher que peida não morreu.' Essas foram suas últimas palavras."



    Confissões, de Rosseau

    sexta-feira, 26 de agosto de 2011

    ornitorrinco

    tem uma tchurma bem boa escrevendo aqui no ornitorrinco.
    eu também estou lá, tentando .


    segunda-feira, 22 de agosto de 2011

    leave me alone

    a independência individual seduz, não deveria nada a ninguém, não frustro nenhuma expectativa e monto meus horários. calhou d'eu amar um homem. estrondosamente trabalhamos juntos. apesar dos jornalistas insistirem, não, não há regras. sim, levamos trabalho pra casa, pra cama. ninguém aqui bate ponto. inventamos uma dinâmica. têm dias que dá certo, dá certo pra caralho, lucas, eu te amo, fica comigo pra sempre, me dá um filho teu, vamos morrer juntos com 97 anos, me come todo dia, te dou até meu cu, veja só. mas têm dias que é puro terror. lucas, eu te odeio, vai pra puta que pariu, tá tudo errado, nada vai dar certo, a gente tá muito fudido. e isso é maravilhoso, se você não percebe, sugiro PASSEAR.
    o problema é que não dependemos só um do outro. existe uma banda. uma pessoa toca baixo, outro toca bateria. mas não dependemos só da gente. existe um escritório. que nos representa.
    e todo esse convívio, esse tato é de puro amor & ódio. outro dia comentei que o meio termo morreu. hoje em dia ou eu conheço filha da puta cretino e parasita ou conheço uma gente linda, viva, generosa e do amor. saudade da dosagem certa, da cretinice bem colocada da boa moça e da generosidade espontânea de um calhorda. apesar da minha altura, não lido bem com extremos. e sem esse papo amywinehousewayoflive de "mas eu mergulho no fundo, eu sou o que sou até o final". apaporra. é onde o final, meu amor? é onde? pura blablasofia. vontade de mandar meio mundo pra porra. abrir o guarda-sol ou guarda-chuva, dar carona pro lucas porque hoje eu tô fã do amor. meu. dele. nosso. fugir pra grécia. e quando me incomodarem com "você tá falando grego!", eu vou poder concordar. concordar. porque por enquanto tô só na discórdia. greta garbo, eu te amo.

    sábado, 20 de agosto de 2011

    astro

    logia espera muito de mim, não sei se consigo:


    "Ao longo da vida, você vai solucionar várias situações críticas com seu engenho e sua mente inventiva e cheia de novos planos e idéias humanitários."

    terça-feira, 9 de agosto de 2011

    Frenesi do zzzz



    Não sei como começou mas eu em criança fingia que dormia na presença das pessoas. Queria saber se me segredavam algo. Fingia que dormia na frente dos meus pais. Encostava no sofá, fechava os olhos, mas estava atenta. Não diziam nada demais, ficava aliviada e ia logo brincar com minhas miniaturas de uma família urso.

    A primeira vez, acho, foi na hora do recreio, as meninas trocavam papel de carta, eu sentei perto e fingi que hibernava. Eu não sei porquê, mas é isso mesmo. Eu queria saber. Mas não frontalmente, pois entendia a cerimônia e a decência do espaço da mentira. Queria saber se me achavam bonita ou legal, mas sem o risco de corar o rosto.

    Eu, que sempre fui insone, achei que parecendo que dormia, o mundo se revelava outro. Não era bem assim. Meus irmãos deviam ter códigos quando dividíamos o quarto, e as meninas no recreio não tinham nem tempo pra me incluir em citações. Mas eu não desistia. Demorava séculos pra dormir de fato, mas o fingimento já rolava há uma hora. Não era a possibilidade de flagra que me seduzia, mas sim a observação do livre-espontâneo. Eu crescia e me separava cada vez mais dele. Dormir ainda era livre.

    Numa viagem de excursão para Cidade da Criança, aconteceu. Eu fingia que dormia no banco e as pessoas falaram mal de mim. Ali foi o início da atenção aos meus extremos. Os tamanhos eram muito além do possivelmente permitido. Eu que talvez já tivesse reparado, era agora então, finalmente reparada. O mais curioso é que eu continuei de olhos fechados. Blábláblábláblá Letícia aquilo isso. Ouvi. O olho deve ter tremido um pouco. Mas o que eu lembro disso é que tudo que vi foi a Grécia. Sonhar é fechar os olhos. Foi nessa hora que eu compreendi. A redoma de vidro que a gente pode construir pra ter uma vida boa. Não é optar pela ignorância, é ser capaz de fingir que dorme. Conectar nossos fios com os nossos fios. Elas falaram que eu era feia, que eu parecia um zumbi. Mas o que fica não é bem isso. Fica mais que eu me visualizei mais velha, interessante, vivida, beijando homens bonitos, sendo feliz, tendo filhos. Visualizar impressão: Eu, em 2012, conhecendo a Grécia. No mesmo instante, eu criei outra vida pra mim. E essa vida chegou, olha que coisa. Tá chegando. Salvei a visualização pra mim. Salvar como? Foi ali que nasceu a atrizinha que mora em mim.

    Depois parei um pouco de fingir que dormia. Me assumi insone. E não luto contra. Levanto, escrevo, leio, raspo a perna se for o caso. Mas outro dia não resisti. Sabia que o amor me olhava, sabia que ele tinha despertado antes de mim. E tem esse peso "OAMORTEOLHA". E resolvi fingir que dormia. Ele faria alguma coisa? Pode parecer óbvio o amor, mas não é bem assim, aviso logo para os que acham que a vida fica calma com ele. Pois eu fingia que dormia e ele me deu um beijinho. Sabe um beijinho? Fingi que semi-acordava, fiz cara de bebê que resmunga. O amor tem disso: a tal volta ao livre-espontâneo. Evoé.

    E foi nesse dia, talvez de lua nova (eu que sempre atribuí grandes acontecimentos pra lua cheia, me surpreendi), insone que sempre fui, consegui dormir de verdade após o fingimento. Foi o beijinho. Sabe um beijinho?